Karim Benzema: o retorno do filho pródigo à seleção francesa de futebol

A imprensa esportiva francesa não fala de outra coisa nesta quarta-feira (19): o treinador dos 'Les Bleus' [os 'Azuis'], como é a conhecida a seleção francesa de futebol, Didier Deschamps, surpreendeu o público na terça-feira ao anunciar que, na sua lista de 26 jogadores para o próximo Campeonato Europeu de Futebol, estará presente o atacante Karim Benzema, excluído da seleção nacional desde 2015 devido a escândalos com insinuações de racismo e problemas com a Justiça.

O rosto de Karim Benzema aparece na tela durante a seleção francesa anunciada por Didier Deschamps no canal TF1 em Boulogne Billancourt, 18 de maio de 2021 FRANCK FIFE POOL/AFP

Por Astrid Pilpe 

O jogador de futebol francês e atual artilheiro do Real Madrid, Karim Benzema, retorna, aos 33 anos, à seleção francesa. “El gato”, como é conhecido pela imprensa espanhola, foi afastado da equipe comandada por Didier Deschamps por suposto envolvimento num caso de chantagem e extorsão contra o então companheiro de equipe, Mathieu Valbuena.

Foi a sua lealdade a Karim Zenati, um amigo de infância do bairro onde cresceu, Bron, nos arredores de Lyon, que lhe custou o envolvimento no caso Valbuena. Benzema foi preso em 2015 por ser suspeito de envolvimento na tentativa de extorsão para tornar público um conteúdo de vídeo sexual com o ex-jogador do Marselha e da seleção francesa, Valbuena.

Longe do seu habitual silêncio midiático, e após afastar a sua participação na Eurocopa realizada em França em 2016, o atacante criticou em entrevista ao jornal espanhol Marca, o treinador Didier Deschamps, a quem acusou de “ceder às pressões de uma parte racista da França".

Dois dias depois, uma pichação com a palavra "racista" apareceu na casa de Deschamps. Este episódio marcou profundamente o treinador, que denunciou em janeiro passado à radio RTL um “ato violento que afetou minha família”. Mas "o filho pródigo à casa torna" em 2021.

Poucos anos antes do caso Valbuena, o atacante formado no Lyon já havia se envolvido em situações polêmicas, como no chamado 'caso Zahia', em que esteve com Franck Ribéry, e pelo qual teve que comparecer perante o juiz por "solicitar uma prostituta menor de idade". Ele foi finalmente absolvido, como Ribéry, em janeiro de 2014.

Apesar de se ter tornado uma das estrelas do Real Madrid, equipe com a qual conquistou quatro campeonatos e três ligas europeias, entre tantos outros troféus, Deschamps até agora havia ignorado os apelos para o regresso de Benzema à seleção nacional da França.

"Nunca disse que ele não era selecionável", defendeu-se Deschamps numa conferência de imprensa na terça-feira. "Porque não o chamei antes? Não sou mágico, não posso fazer o tempo voltar", acrescentou o treinador, afirmando que "todos têm o direito de cometer erros".

"Para o bem da equipe"

Deschamps explicou o motivo do regresso do atacante à seleção: "Para chegar a esta decisão, aconteceram várias etapas. Já nos vimos e conversamos longamente". E acrescentou em frente à câmara do canal de televisão francês TF1: “Sempre deixei o meu problema pessoal [com ele] de lado, a equipe francesa não me pertence e ela existe acima de tudo”.

O dirigente dos 'Bleus' insistiu que a convocação de Benzema é "para o bem da seleção francesa", que será "melhor na relação com Karim", cuja última partida com a camisa francesa foi em 8 de outubro de 2015 na vitória por 4-0 para Armênia, jogo em que marcou dois gols.

O presidente da Federação Francesa de Futebol, Noël Le Graët, que em novembro de 2019 havia encerrado definitivamente "a aventura de Benzema na seleção francesa", apoiou Deschamps e declarou em um comunicado: "Acho que é uma excelente decisão, tendo em conta o seu talento e seu excelente desempenho nos últimos meses."

O apoio de Zidane

Todas as controvérsias não impediram Benzema de continuar a construir uma grande carreira no futebol da Espanha e amadurecer ao lado de Zidane, a quem frequentemente descreve como "irmão mais velho", e que sempre o defendeu.

"Para mim, ele é o melhor" centro-avante da história, declarou recentemente o treinador do Real Madrid. "Ele mostra isso, ele joga no Real Madrid há muito tempo, mais de 500 jogos, seus gols, seu histórico, tudo o que ele conquistou fala por ele", acrescentou o mito francês. "Como entender que ele não é convocado para a seleção nacional?", Zidane perguntou em março.

Benzema reagiu nas redes sociais após a convocação expressando “um enorme orgulho por regressar à seleção francesa e pela confiança que me depositaram”. Ele agradeceu também à sua família, aos amigos, ao Real Madrid e a “todos aqueles que me apoiaram e dão forças diariamente”.

Os 26 selecionados da França irão se reunir a partir de 26 de maio para se preparar para a Eurocopa, que será realizada de 11 de junho a 11 de julho. No torneio, a França, atual campeã mundial, está no 'grupo da morte' ao lado da Alemanha, Portugal (atual campeã do torneio) e Hungria.