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Brasileira que voltou do Brasil para a França conta como vive a quarentena rígida

A mineira Rubiana Fortes chegou do Brasil neste domingo (25) num dos primeiros voos liberados após a suspensão do tráfego aéreo entre o Brasil e a França, no dia 13 de abril. Residente na França há mais de quatro anos, ela não teve problemas para entrar no país, mas está impedida de voltar ao trabalho e de sair de casa durante dez dias. Caso desrespeite as regras, está sujeita a uma multa de € 1.500, cerca de R$ 10 mil. Se houver reincidência, a multa sobe para € 3.000.

Rubiana Fortes, brasileira que voltou para Paris no dia 25 de abril e está submetida à quarentena de dez dias (a foto é anterior à viagem e à quarentena).
Rubiana Fortes, brasileira que voltou para Paris no dia 25 de abril e está submetida à quarentena de dez dias (a foto é anterior à viagem e à quarentena). © Arquivo pessoal
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O fechamento das fronteiras da França para voos vindos do Brasil, no dia 13 de abril, pegou muita gente de surpresa. Foi o caso de Rubiana, que trabalha como assistente de primeira infância numa creche na região parisiense e estava no Brasil para fazer uma cirurgia dentária.

"Eu estava adiando a minha ida ao Brasil havia mais de um ano. Quando me dei conta de que a pandemia não iria acabar tão cedo e vi que havia franceses viajando, inclusive para o Brasil, de férias, marquei minha passagem para fevereiro. Mas o governo anunciou que não poderíamos viajar sem motivo imperioso, então remarquei para abril e pedi férias no trabalho", conta a mineira, que mora em Saint-Germain-en-Laye, a 19km de Paris. 

Após dez dias com o tráfego aéreo fechado entre Brasil e França, este foi reaberto no sábado (24), mas com a obrigação de uma quarentena rigorosa de dez dias, cujo desrespeito é sujeito a multas, para todos os passageiros que chegam do Brasil - mas também do Chile, Argentina, Índia e África do Sul.

Ao chegar a Paris, Rubiana precisou passar por quatro filas distintas, a primeira, da alfândega, para verificação de passaporte e visto, além do motivo da viagem; a segunda, para informar seus dados pessoais à Polícia francesa, responsável pelo controle da quarentena; a terceira para realizar o teste de antígenos em território francês, e uma quarta, depois de receber o resultado negativo, para poder deixar o salão do desembarque, com dois policiais checando o resultado do teste e também o passaporte e os dados fornecidos por ela. 

"Eu tive que assinar na frente dos policiais as cinco folhas do decreto da Secretaria de Segurança Pública me comprometendo diante do Estado francês a cumprir a quarentena obrigatória", conta. Neste decreto, que ela forneceu à reportagem, consta que ela só pode sair do local de isolamento (a casa dela) entre 10h e 12h de cada dia, num raio de 1 km, com justificativa e em apenas dois casos: para fazer compras, na impossibilidade de delivery, ou para cuidados médicos, na impossibilidade de teleconsulta. 

Estresse da chegada

"Quando saí do avião e peguei as duas primeiras filas, as coisas ainda estavam organizadas e com certa agilidade. Mas aí o Jean Castex chegou para visitar o aeroporto e tudo ficou muito, muito lento. O resultado do meu teste, que deveria sair em 15 minutos, saiu em uma hora e meia. Foi bastante estressante, depois de tantas horas de voo", conta.

Apesar do estresse da chegada, Rubiana disse que não se inquietou quando, ainda no Brasil, soube que o primeiro-ministro francês, Jean Castex, tinha anunciado a interrupção do tráfego aéreo entre os dois países. "Meu marido, francês, ficou mais estressado que eu, mas eu sabia que haveria pelo menos um voo de repatriação", relata. Quando foi anunciada a reabertura do tráfego aéreo, seu marido ligou rapidamente para a AirFrance e conseguiu alterar a sua passagem. "O voo veio lotado", disse Rubiana, que fez a rota Belo Horizonte - São Paulo - Paris. 

Rubiana teve sorte de conseguir pegar este voo que aterrissou domingo em Paris. Se esperasse mais um dia para voltar, talvez ela tivesse problemas com a burocracia francesa, já que o seu doumento que permite viagens internaionais, enquanto aguarda a renovação da sua carteira de residente, venceu nesta segunda-feira (26). 

A medida do governo francês visa conter a importação de variantes do coronavírus. Devido o alto valor da multa - € 1.500 - e a impossibilidade de poder voltar ao trabalho presencial durante estes dez dias (como cuida de bebês, ela não pode trabalhar em home office), Rubiana disse que, se soubesse disso antes de viajar, teria adiado a viagem mais uma vez. "Com uma multa desta, eu não vou nem à portaria do prédio", garante a brasileira. 

Mais de 24 horas após a sua chegada, ela conta não ter recebido ainda nenhuma ligação nem visita da polícia. "Talvez seja porque eu more fora de Paris, já que tenho uma amiga que veio no mesmo voo e recebeu uma ligação da polícia ainda no trajeto do táxi para a casa, para verificar se ela estava em casa, e, na noite de domingo, recebeu uma visita de três policiais em sua casa", conta. 

Explicação sobre a quarentena à qual os passageiros que chegam do Brasil são submetidos
Explicação sobre a quarentena à qual os passageiros que chegam do Brasil são submetidos © Arquivo pessoal

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