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França tem primeiro nascimento após transplante de útero de doadora viva e programa outros dez

A França registrou o primeiro nascimento de um bebê gerado após um transplante de útero. A criança, uma menina de 1,845 kg, nasceu na última sexta-feira, 12 de fevereiro, mas o caso só foi divulgado na manhã desta quarta-feira (17). "A mãe e a criança estão bem", disse o professor Jean-Marc Ayoubi, chefe do Departamento de Ginecologia, Obstetrícia e Medicina Reprodutiva do Hospital Foch, em Suresnes, subúrbio a oeste de Paris. 

O Hospital Foch de Suresnes, na região parisiense.
O Hospital Foch de Suresnes, na região parisiense. Wikimedia/Celette
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A mãe, Déborah, de 36 anos, havia sido submetida a um transplante de útero em março de 2019, o primeiro no país. O caso ganhou as manchetes na época porque a doadora foi a mãe da paciente, e agora avó materna, então com 57 anos. Nascida sem útero, a transplantada sofre da síndrome de Rokitansky (MRKH), doença que afeta uma em cada 4.500 mulheres ao nascer.

A técnica é considerada promissora para pacientes que nascem sem o órgão, ou que o removeram. Além disso, representa uma alternativa experimental à barriga de aluguel, proibida na França, ou à adoção.

O primeiro nascimento após um transplante de útero aconteceu na Suécia, em 2014. Na época, a proeza foi obtida pela equipe do professor Mats Brännström, da Universidade de Gotemburgo, e anunciada na prestigiosa revista médica britânica The Lancet. A doadora, viva, tinha 61 anos. Desde então, cerca de 20 bebês já nasceram em vários países graças a procedimentos semelhantes.

O Brasil se destaca nessa área de pesquisa pois teve o primeiro bebê do mundo nascido de útero de uma doadora morta. A mãe, de 32 anos na época, tinha a mesma doença da parturiente francesa. A bebê brasileira nasceu em 2018 no Hospital Universitário da USP, em São Paulo. O feito científico conquistado pela equipe do médico Dani Ejzenberg, do Hospital das Clínicas, também foi noticiado pela The Lancet. A mãe havia recebido o útero da doadora morta em 2016. Na época, Estados Unidos e Turquia haviam tentado a mesma experiência, sem sucesso.

Pandemia atrasou gravidez

O professor Ayoubi, docente da Universidade de Medicina de Versalhes, afirma que é recomendável esperar um ano antes da primeira gestação, para minimizar as chances de rejeição do útero doado. Porém, no ano passado, devido à pandemia do coronavírus, a gravidez da francesa Déborah acabou sendo adiada.

O processo de transferência do óvulo fecundado in vitro foi realizado em julho. A gravidez se desenvolveu logo na primeira tentativa. Segundo o hospital francês, a gestação ocorreu sem maiores complicações e a bebê nasceu na 33ª semana, o equivalente a sete meses e meio de gravidez. 

No caso do transplante de útero, o tratamento imunossupressor para evitar a rejeição é mais leve do que o recomendado para outros órgãos. Os medicamentos são adaptados à gestação, da mesma maneira que ocorre para mulheres grávidas submetidas a transplantes de rins. 

Há doze anos a França iniciou as pesquisas nessa área, em colaboração com o pioneiro sueco. Segundo o especialista francês, na Suécia várias mulheres transplantadas já conseguiram ter dois filhos.

Outros transplantes de útero estão previstos no Hospital Foch. A equipe do professor Ayoubi recebeu uma autorização da Agência Nacional de Segurança do Medicamento e de Produtos de Saúde (ANSM) para realizar ensaios clínicos com dez doadoras vivas.

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