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França lança primeiras frequências da 5G sob críticas da Agência Espacial Europeia

As primeiras frequências 5G para telefonia celular foram ativadas nesta quarta-feira (18) na França, um mercado dominado pelas operadoras francesas SFR e Bouygues Telecom. No entanto, muitos meteorologistas temem interferências nos satélites necessários tanto para as previsões do tempo, como para o estudo das mudanças climáticas.

As primeiras frequências 5G são ativadas nesta quarta-feira (18) na França, um mercado dominado pelas operadoras francesas SFR e Bouygues Telecom.
As primeiras frequências 5G são ativadas nesta quarta-feira (18) na França, um mercado dominado pelas operadoras francesas SFR e Bouygues Telecom. AFP/File
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A causa da preocupação dos meteorologistas é a ausência das emissões de altíssima frequência, na chamada banda milimétrica de 26 gigahertz (GHz), que não fazem parte do primeiro lote francês destinado ao lançamento de 5G. Trata-se de ondas de pequeno alcance mas de grande performance, necessárias, por exemplo, para as enormes quantidades de dados da futura “Internet dos Objetos”, ou para a indústria e os centros urbanos superpovoados.

Jim Bridenstine, chefe da NASA, resumiu o impacto potencial de sua implantação em abril de 2019, na Câmara dos Deputados dos Estados Unidos. "Esta parte do espectro é necessária para prever onde um furacão atingirá o continente. Se você não pode prever isso com precisão, você pode não estar evacuando as pessoas certas. E há uma probabilidade muito alta de perdermos muitos dados se essas frequências forem atribuídas a dados móveis", advertiu na ocasião.

O problema é a proximidade com as ondas eletromagnéticas, que permitem a medição dos componentes químicos da atmosfera. Particularmente "a coluna de vapor d'água, ou seja, todas as características das formas químicas que a água pode assumir, desde nevoeiro, gotículas, chuva, até granizo", dados essenciais para previsão do tempo, explicou Eric Allaix, da Organização Meteorológica Mundial (WMO).

Vizinho barulhento

"Imagine que você tem um vizinho que escuta o rádio muito alto. Bem, se ele escuta mais alto do que a sua parede pode isolar, isso se transforma em ruído, você vai ficar incomodado, e é exatamente isso que poderia acontecer ”, continua Allaix.

No final de 2019, a OMM, apoiada por mais de trinta países, principalmente europeus, levantou o problema na conferência mundial de radiocomunicações da União Internacional de Telecomunicações (UIT), ao mesmo tempo que insistia que “não se trata de se opor ao lançamento de novas tecnologias de comunicação ”.

Após longas discussões, o órgão definiu frequências de transmissão para 5G permitindo "serviços de satélite em apoio à meteorologia e climatologia [a serem] protegidos contra interferências prejudiciais de rádio" .

Mas esses limites "não são restritivos o suficiente", estima a Agência Espacial Europeia (ESA). O chefe do Escritório de Gestão de Frequências, Enrico Vassallo, sublinha que as propostas europeias à UIT já são o resultado de "um compromisso" que "não oferece margens de segurança satisfatórias".

Situação ainda mais problemática “já que não existem atualmente técnicas de contenção de danos conhecidas”, sublinha. “É o ponto mais importante: não há plano B”, acrescenta Allaix.

União Europeia X Operadoras

Além do impacto nas previsões meteorológicas de curto e médio prazos, as consequências puderam ser sentidas nas bases de dados destinadas ao estudo das mudanças climáticas, como as utilizadas por especialistas da ONU do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em inglês).

"Todos esses dados foram feitos com base em um determinado benchmark de medição, um certo nível de variação nessas famosas bandas. Se você alterar esse padrão, perderá toda a profundidade temporal dos dados coletados", explica Allaix.

Para tentar limitar esses inconvenientes, a UE decidiu em abril antecipar de 1° de setembro de 2027 para 1° de janeiro de 2024 a aplicação das novas normas emitidas pela UIT. Com a esperança de antecipar a implantação em larga escala de equipamentos 5G para a banda dos "26 gigas", e talvez assim influenciar os fabricantes dos equipamentos [os instrumentos que respeitam estas limitações são mais caros].

Por enquanto, apenas Itália e Finlândia leiloaram essas frequências na Europa, e os equipamentos colocados em serviço antes da entrada em vigor das novas regras não serão afetados por essas limitações.

Não é de surpreender que as operadoras e fabricantes de telefones se oponham à posição europeia. A entrada em vigor antecipada das limitações "não se justifica", especialmente porque "não há certeza de que os fabricantes de equipamentos serão capazes de cumprir os limites draconianos até janeiro de 2024", alertou em meados de outubro a associação internacional de operadoras de telecomunicações GSMA.

A associação alerta: “Se não for disponibilizado todo o espectro de frequências, a indústria não será capaz de fornecer os serviços e experiências 5G inovadores e competitivos que os usuários esperam”.

(Com informações da AFP)

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