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Macron lança ofensiva para explicar por que combate o separatismo islâmico e não o Islã

O presidente francês, Emmanuel Macron, está decidido a reforçar sua ofensiva diplomática para elucidar a posição da França de respeito aos muçulmanos e a determinação de seu governo em combater o extremismo islâmico, que é alimentado por uma minoria de integristas religiosos em algumas áreas do país. Depois de uma entrevista no domingo (1°) ao canal de TV Al Jazeera, muito popular no mundo árabe, Macron enviou uma "carta à redação" do prestigioso jornal britânico Financial Times (FT).

O presidente francês, Emmanuel Macron, diz que a França luta contra o "separatismo islâmico" e não contra os muçulmanos.
O presidente francês, Emmanuel Macron, diz que a França luta contra o "separatismo islâmico" e não contra os muçulmanos. AFP - LIONEL BONAVENTURE
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Macron fez questão de reagir a um artigo de opinião, publicado na segunda-feira (2) no FT, que o acusou de "estigmatizar" os muçulmanos e de alimentar um clima de "medo" e "suspeição" por interesse eleitoral. Ou seja: para atrair simpatizantes de direita e de extrema direita nas eleições de 2022. O texto crítico ao presidente foi retirado do site, e a resposta do líder centrista publicada na noite de quarta-feira (5).

"Não deixarei ninguém afirmar que o Estado francês cultiva o racismo contra os muçulmanos", rebateu Macron. "A França luta contra o separatismo islâmico, nunca contra o Islã", insistiu, estimando que suas declarações têm sido distorcidas, principalmente quando traduzidas no mundo árabe.

Um discurso de Macron feito no início de outubro para apresentar um projeto de lei do Executivo contra o "separatismo islâmico", que busca "criar uma ordem paralela" na França, nas palavras do presidente, gerou controvérsia em alguns países muçulmanos. A Justiça francesa tinha iniciado o julgamento de 14 cúmplices da onda de atentados terroristas de janeiro de 2015, incluindo o massacre na redação da revista satírica Charlie Hebdo. Na sequência, mais três ataques jihadistas – no intervalo de um mês e meio –, incluindo a decapitação do professor Samuel Paty, aumentaram a tensão no país. A brasileira Simone Barreto Silva morreu num deles, em Nice.

Nesse meio-tempo, o presidente da Turquia, Recep Tayyp Erdogan, em posição de rivalidade com a França em vários conflitos internacionais, atiçou a ira de milhares de integristas mundo afora, com apelos ao boicote de produtos franceses. Erdogan, por interesses de política interna e externa, acusou Macron e a União Europeia de terem uma "agenda antimuçulmana". Desde então, a Europa voltou a estar no centro de ameaças jihadistas.

No texto publicado no FT, Macron recorda a longa série de atentados que deixaram 300 mortos desde janeiro de 2015, apenas no território francês. Ele explica que "a França é atacada por seus valores", por ser uma república laica e por defender a liberdade de expressão. "Não cederemos nada", reiterou o presidente.

Contra o obscurantismo, o fanatismo e o extremismo violento

Macron cita "centenas de indivíduos radicalizados, que dão medo de, a qualquer momento, pegar uma faca para matar os franceses". “Em certos bairros, bem como na internet, grupos ligados ao Islã radical ensinam crianças francesas a odiar a República e a desrespeitar as leis" do país, afirma.

"Você não acredita em mim?", indaga o presidente dirigindo-se ao leitor do FT. "Releia as conversas, os chamados ao ódio transmitidos em nome de um Islã equivocado nas redes sociais e que resultaram na morte do professor Samuel Paty há poucos dias. Vá visitar os bairros onde as meninas de três ou quatro anos usam o véu islâmico integral e são criadas em um projeto de ódio aos valores da França", diz ele.

"É contra isso que a França quer lutar atualmente", mas "nunca contra o Islã". “Contra o obscurantismo, o fanatismo, o extremismo violento; nunca contra uma religião." E enfatiza: “não precisamos de artigos de jornal que procurem nos dividir”, conclui.

Fontes diplomáticas afirmam que o presidente estuda outras ações e o eventual envio de representantes franceses a países muçulmanos para explicar a política do governo contra o islamismo radical e combater as acusações de discriminação contra os muçulmanos.

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