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Nova onda de calor na França terá picos acima de 40°C e seca histórica, no ano mais quente desde 1900

Um novo episódio de fortes ondas de calor atinge a França nesta quinta-feira (6) e deve durar cerca de uma semana, com noites cada vez mais quentes, especialmente em áreas muito urbanas, segundo François Jobard, meteorologista do Instituto Météo France. Mas não são apenas os parisienses e os parcos turistas desta estação pós-pandemia que se preparam para esta semana de intenso calor: devido às mudanças climáticas, a França vem sofrendo cada vez mais com a seca, que vem ameaçando a autonomia agrícola do país.

Ondas de calor: "Vai ser preciso se acostumar", adverte o diretor do Instituto de Ciências Climáticas
Ondas de calor: "Vai ser preciso se acostumar", adverte o diretor do Instituto de Ciências Climáticas AFP - DOMINIQUE FAGET
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Segundo o meteorologista François Jobard, entrevistado pelo site France Info, a onda de calor pode variar dependendo da região. “Para os parâmetros franceses, entramos em uma onda de calor bastante significativa, pois durará cerca de uma semana, entre 6 e 8 dias. Em muitas cidades, excederemos os 35 graus por vários dias, o que não é tão frequente, especialmente na parte central da França”, diz o especialista.

Ainda segundo Jobart, o fenômeno não é visto “desde 2003”, quando a França sofreu uma onda de calor que deixou mais de 15.000 mortos. “Em áreas muito urbanas, teremos fenômenos de acumulação de calor, dando origem a noites cada vez mais quentes, com temperaturas mínimas altas, cada noite um pouco mais quente que a anterior; teremos um forte cansaço que será sentido pelas pessoas”, avisou.

Ano mais quente desde 1900, com secas inéditas em 250 anos

O gado Limousin é fotografado em pastos secos em uma fazenda de gado, em 5 de agosto de 2020, em Vivoin, no oeste da França, pois uma onda de calor é esperada nos próximos dias.
O gado Limousin é fotografado em pastos secos em uma fazenda de gado, em 5 de agosto de 2020, em Vivoin, no oeste da França, pois uma onda de calor é esperada nos próximos dias. AFP - JEAN-FRANCOIS MONIER

Outra particularidade é que 2020 será, segundo especialistas, o ano mais quente em mais de dois séculos. A França atravessa um período de seca excepcional: os índices nacionais indicam que, desde 1959, não havia um mês de julho tão seco no verão francês. Passagens chuvosas eram extremamente raras ou mesmo inexistentes no país, e tempestades se faziam raras.

“Em partes do norte e nordeste da França, a primavera também foi particularmente seca. Tudo isso significa que chegamos, no início dessa onda de calor, com solos extremamente secos em alguns locais, perto de recordes baixos para o período”, analisa Joubart para o site France Info.

O episódio de seca sem precedentes, com 250 anos de idade, que atingiu a Europa por dois verões consecutivos em 2018 e 2019 provavelmente se repetirá com muito mais frequência até o final do século, devido ao aquecimento global, destaca mantém um estudo divulgado quinta-feira.

Em 2003, a Europa já havia sido atingida por uma onda de calor e seca excepcionais, causando sérios danos à agricultura. Em 2018, o fenômeno se repetiu, mas o episódio continuou no ano seguinte, até o verão de 2019.

Usando dados que remontam a 1766, um estudo publicado  nestaquinta-feira na revista Scientific Reports "mostra que as secas de dois verões consecutivos em 2018 e 2019 são absolutamente sem precedentes em 250 anos, e seu impacto combinado no crescimento das plantas é mais forte do que a seca de 2003".

Os pesquisadores estimam que o episódio 2018-2019 afetou mais da metade da Europa Central (da França à Polônia, via Itália ou Alemanha). E devido aos efeitos das mudanças climáticas, se nada for feito para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, esse evento é sete vezes mais provável de ocorrer na segunda metade do século 21.

 Nesse cenário, "as projeções também mostram que as áreas agrícolas afetadas na Europa central quase dobrariam", chegando a 40 milhões de hectares de lavouras, disse Rohini Kumar, do Centro de Pesquisa Ambiental Helmholtz na Alemanha, um dos autores do estudo à agência AFP.

Mas essa repetição seria significativamente reduzida, mais de duas vezes, se o mundo conseguisse reduzir significativamente as emissões de CO2. "Isso prova que a implementação de medidas para reduzir as emissões pode reduzir o risco de episódios consecutivos de seca na Europa", insistiu Rohini Kumar.

A ocorrência de grandes episódios de seca por dois anos consecutivos é particularmente problemática para plantas que precisam de tempo para se recuperar do calor e da falta de água. Portanto, “é urgente reconhecer a importância desses eventos persistentes, e desenvolver um modelo completo para modelar os riscos”, insiste o pesquisador.

Mudanças climáticas são "uma certeza"

Homens participam de uma pesca elétrica para resgatar peixes no rio "La Savoureuse", ameaçado pela seca em Lepuix, no leste da França, em 5 de agosto de 2020. Os peixes são capturados com o uso de um dispositivo elétrico que funciona com uma corrente que direciona os peixes para as redes e, em seguida, soltos à jusante do rio.
Homens participam de uma pesca elétrica para resgatar peixes no rio "La Savoureuse", ameaçado pela seca em Lepuix, no leste da França, em 5 de agosto de 2020. Os peixes são capturados com o uso de um dispositivo elétrico que funciona com uma corrente que direciona os peixes para as redes e, em seguida, soltos à jusante do rio. AFP - SEBASTIEN BOZON

Para Robert Vautard, diretor do Instituto de Ciências Pierre-Simon-Laplace para o clima, "as temperaturas mais altas aumentam há várias décadas e temos certeza de que é devido às mudanças climáticas", explicou ele nesta quinta-feira (6).

Segundo Vautard, o desafio hoje é tomar medidas para conseguir limitar o aquecimento global a longo prazo: "As ações que estamos tomando hoje para reduzir as mudanças climáticas terão um efeito muito claro a partir de 2050", analisa.

O especialista relata que temperaturas como 35°C, nas décadas anteriores, aconteciam cerca de dez dias por ano na França. "Hoje, já estamos 30 ou 40 dias por ano acima de 35°C", lembra Vautard. "Em meados do século 21, espera-se que as temperaturas de 40°C sejam ultrapassadas quase todos os anos na França. Então, estamos caminhando para temperaturas muito altas, com secas cada vez mais acentuadas", adverte o pesquisador.

Para ele, as ondas de calor na França são o principal marcador das mudanças climáticas. "Nós vemos isso, sentimos isso todo verão agora desde 2004. Essas ondas de calor nos mostram o quão vulneráveis ​​nossas sociedades são às mudanças climáticas. Podemos ver os problemas de seca que estão ocorrendo neste ano e o grau de urgência no combate a essa mudança climática, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa", analisa.

O perigo do degelo marinho

Vautard cita ainda outros sinais climáticos preocupantes em todo o mundo em 2020. "Vimos um novo fenômeno na Sibéria, com temperaturas extremas. Também tivemos um episódio no Ártico em julho, com temperaturas atingindo mais de 20°C. Isso está causando uma série de consequências, em particular o derretimento do gelo do mar", disse. "Este ano, vimos uma diminuição recorde das calotas polares no mar do Ártico. Estamos superando o recorde de 2012. E isso tem o efeito de acelerar ainda mais as mudanças climáticas, já que os blocos de gelo refletem a radiação solar e permitem que a Terra aqueça um pouco menos", conclui o especialista.

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