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Morre aos 93 anos Gisèle Halimi, pioneira do feminismo na França

Durante sua longa vida, da Túnisia onde nasceu à França onde viveu, ela esteve à frente de todas as lutas pela ampliação dos direitos das mulheres: direito ao aborto, à emancipação, à igualdade entre os sexos, à descriminalização da homossexualidade. Mas além de feminista, a advogada de esquerda Gisèle Halimi era também humanista e combateu a tortura e o colonialismo. Ela morreu nesta terça-feira (28), aos 93 anos.

A advogada e presidente da associação "Choisir la cause des femmes» Gisèle Halimi, em 14 de novembro de 2003, em Paris.
A advogada e presidente da associação "Choisir la cause des femmes» Gisèle Halimi, em 14 de novembro de 2003, em Paris. AFP/Jacques Guez
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Por Fabien Leboucq, jornalista RFI

Amiga de Simone Veil e de Simone de Beauvoir, Gisèle Halimi parece ter nascido feminista. De origem modesta, ela nasceu em 1927 em La Goulette, no norte da Tunísia, mas desde cedo não suportava o peso da tradição e da religião que ditavam o comportamento de seus pais judeus. Adolescente rebelde, a jovem Zeïza Gisèle Taïeb, abandonou seu primeiro nome e recusou, aos 14 anos, o casamento arranjado por seus pais com um comerciante de azeite 20 anos mais velho. Contra a vontade da família, conseguiu terminar o ensino médio e viajou para a França, onde estudou Filosofia e Direito.

Advogada dos movimentos pela descolonização

Em 1949, começa a atuar como advogada em Túnis e dirige a União dos Jovens Advogados ao lado de Béji Caïd, futuro primeiro-ministro e presidente da Tunísia. Ela defende sindicalistas e líderes do movimento pela independência da Tunísia, na época colônia francesa. Nesse momento, “tomei consciência que meu primeiro combate era conseguir me impor, ser ouvida. Fazer as pessoas aceitarem que uma jovem mulher pode trabalhar”, lembrou a advogada anos depois em entrevista à radio France Inter.

Foi defendendo uma mulher, quando já trabalhava em Paris, que Gisèle Halimi ficou conhecida em 1956. Ela foi a advogada de Djamila Boupacha, ativista da Frente de Libertação Nacional (FLN) da Argélia, detida após uma tentativa de atentado, torturada e estuprada na prisão por agentes franceses. Halimi conseguiu que a acusada fosse julgada na França e o processo se transformou em uma crítica às atrocidades dos soldados franceses na Argélia. A jovem militante foi condenada à morte, mas foi anistiada em 1962.

Gisèle Halimi (esq) et Djamila Boupacha em abril de 1962.
Gisèle Halimi (esq) et Djamila Boupacha em abril de 1962. AFP

Luta pelo direito ao aborto

Nos anos 1970, o combate pelo direito ao aborto agitava a França. Em 1971, Gisèle Halimi é uma das signatárias do “manifesto das 343” mulheres que admitiam já ter feito um aborto. Neste mesmo ano, ela cria, juntamente com Simone de Beauvoir e o biologista Jean Rostand, a associação “Choisir la cause des femmes” (Escolher a causa das mulheres), que milita para que as mulheres possam dispor livremente de seus corpos e contra as desigualdades de gênero.

Gisèle Halimi defende então uma jovem de 16 anos que havia abortado após um estupro e o processo se transforma em uma tribuna pelo direito ao aborto. A jovem Marie-Claire será absolvida. Três anos mais tarde, em 1975, a lei Veil que legazlizou o aborto na França, até três meses de gravidez, era votada.

Em nome da liberdade

A advogada adere ao Partido Socialista e se lança na política. Incentivada por François Mitterrand, ela é eleita deputado em 1981. Na Assembleia francesa, ela continua seu combate pelos direitos das mulheres e, principalmente, pela descriminalização da homossexualidade, que era uma promessa de campanha do primeiro presidente socialista da Quinta República francesa. A advogada não termina o mandato, e é nomeada para várias missões oficiais em organismos internacionais, como a Unesco ou a ONU, sempre defendendo a paridade entre os sexos.

Gisèle Halimi deixa uma obra prolífica. Ela sonhava em ter uma filha, mas teve três filhos de seu primeiro casamento. Do primeiro marido, ela também herdou o nome, “Halimi”, com o qual ficou famosa e decidiu manter mesmo depois do divórcio: “As mulheres não podem ser marionetes que obrigamos a ter um nome, a quem retiramos um nome e recuperam um outro nome”. Poder escolher, essa era a liberdade defendida por Gisèle Halimi.

(Texto publicado originalmente em francês)

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