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Saúde em dia

Especialistas acusam premiê britânico de negligência em relação ao coronavírus

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No Reino Unido, a comunidade científica está dividida diante das últimas medidas anunciadas pelo governo para tentar conter o coronavírus. Com pelo menos 596 casos confirmados e 10 mortes, o país entra agora na fase de tentar atrasar o pico da epidemia.

O premiê Boris Johnson decidiu não fechar escolas apesar do coronavírus
O premiê Boris Johnson decidiu não fechar escolas apesar do coronavírus © AFP
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Maria Luisa Cavalcanti, correspondente da RFI Brasil em Londres

Na quinta-feira, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, recomendou que pessoas com sintomas leves de gripe entrem em auto-isolamento por sete dias, mas afirmou que ainda não é o momento de fechar escolas ou espaços públicos, nem proibir a realização de grandes eventos.

A estratégia dos principais consultores do governo na área de saúde pública é de tentar fazer com que o pico da epidemia coincida com os meses de verão no hemisfério norte. Segundo eles, isso teoricamente poderia ajudar a reduzir a curva de propagação do vírus e colocaria menos pressão sobre o sistema público de saúde, o NHS.

Mas muitos especialistas, entre eles médicos e acadêmicos das melhores faculdades de medicina do país, e o editor-chefe da renomada revista científica The Lancet, acreditam que o governo de Boris Johnson demorou demais para reagir à epidemia e que está tratando o problema como uma decisão política e não de saúde pública, tentando manter a economia aquecida ao não fechar escolas nem proibir grandes aglomerações.

O ex-ministro da saúde, Jeremy Hunt, descreveu que as medidas do atual governo como preocupantes e afirmou que o país está diante de uma emergência. Segundo ele, dentro de quatro semanas, os britânicos podem se ver diante de uma situação semelhante à da Itália se as medidas não forem mais incisivas agora.

Esforços das corporações

Muitas das decisões sobre como enfrentar a epidemia estão vindo das próprias empresas e outras instituições britânicas. Nas últimas semanas, várias corporações intensificaram esforços para que funcionários trabalhem de casa e já se nota um movimento menor no transporte público e em partes do centro de Londres normalmente bastante agitadas.

A Premier League, principal liga do futebol inglês, se reúne nesta sexta-feira para decidir se mantém o atual campeonato, depois da notícia de que o técnico do Arsenal, Mikel Arteta, e o jogador Callum Hanson-Odoi, do Chelsea, foram detectados como portadores do coronavírus.

Algumas universidades, como a London School of Economics e o King’s College, anunciaram que vão cancelar aulas presenciais e fazer seminários através de vídeos online. A Universidade de Cambridge cancelou exames práticos da Faculdade de Medicina para evitar o contato de estudantes com pacientes e profissionais em hospitais e centros de saúde.

A Associação de Diretores de Escolas secundárias e cursos técnicos se reuniu para exigir do governo uma decisão final em relação à realização dos exames finais obrigatórios, que normalmente acontecem nos meses de verão. Pais preocupados com a propagação do vírus iniciaram uma petição pedindo que as escolas públicas sejam fechadas, conquistando centenas de milhares de assinaturas em poucas horas.

Outra petição que vem ganhando popularidade solicita que o governo libere verbas para cobrir a licença médica de trabalhadores autônomos que venham a contrair o vírus.

Nas redes sociais, o comentário geral é de que Boris Johnson não passa uma impressão de boa liderança neste momento.

Diante da decisão do presidente americano Donald Trump de cancelar voos vindos de países da União Europeia, excluindo o Reino Unido, todos os aeroportos do país estão esperando uma alta no número de passageiros em algumas das rotas mais movimentadas do mundo. Segundo a empresa de análises em aviação OAG, normalmente, quase um terço de todos os voos transatlânticos são feitos via Reino Unido, especialmente com conexão no aeroporto de Heathrow, em Londres.

Mas as autoridades britânicas estão preocupadas com o fato de isso aumentar o risco de contágio, já que o Reino Unido ainda tem um número de casos confirmados e mortes bem menor do que outros grandes países europeus, como a França, a Alemanha e a Espanha.

Companhias aéreas em todo o continente, inclusive a British Airways, devem diminuir o número de voos diante da epidemia e já antecipam uma grande crise no setor. A primeira grande vítima foi a empresa britânica Flybe, a maior companhia de voos regionais da Europa e dona de 40% do mercado de voos domésticos, que entrou em falência na semana passada por causa na queda no número de passageiros diante da ameaça do coronavírus.

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