Acessar o conteúdo principal
O Mundo Agora

Brexit: Reino Unido está dividido

Publicado em:

O assassinato selvagem de uma jovem deputada trabalhista já impactou o referendo para decidir se a Grã-Bretanha sai ou não da União Européia. As pesquisas de opinião deram uma reviravolta e estão dando agora uma leve vantagem para o campo do “Fico”. Claro, ainda tem três dias de campanha e muita gente continua indecisa. Mas não há dúvida de que uma parte do eleitorado parou para pensar.

No próximo 23 de junho os eleitores britânicos votarão para permanecer na União Europeia ou não.
No próximo 23 de junho os eleitores britânicos votarão para permanecer na União Europeia ou não. REUTERS/Neil Hall
Publicidade

Será que a conseqüência de um “Brexit” é entregar a Inglaterra para um bando de ultra-nacionalistas intolerantes e violentos? Matar deputados não faz parte das tradições da democracia de Westminster. E o tom do debate político sobre a Europa já perdeu as estribeiras há várias semanas. O problema é que o voto – seja sim, seja não – não vai resolver a questão.

O Reino Unido está partido pela metade. Qualquer parte que ganhe vai provocar uma imensa frustração nas filas dos adversários. Sem falar no novo impulso dado aos sonhos independentistas da Escócia e até do País de Gales – e, quem sabe, a Irlanda do Norte – cujas populações não querem saber de abandonar a Europa. Queiram ou não, e qualquer que seja o resultado, os outros membros da União Européia vão ter que renegociar os direitos e deveres de uma Inglaterra em transe. Para os europeus, é óbvio que é melhor que os ingleses fiquem.

Um “Brexit” poderia provocar turbulências econômicas sérias para todo o Velho Continente. E pior ainda: seria um exemplo para todos os nacionalistas, de esquerda e de direita, que estão levantando a cabeça nos outros países membros. Mas acomodar uma Grã-Bretanha ameaçada de fragmentação sem um consenso amplo sobre o que ela quer, não vai ser nada fácil. E mais complicado ainda: os próprios europeus também não sabem o que querem.

Brexit revela crise profunda em todo o continente

A questão do “Brexit” é só um revelador de uma crise profunda em todo o continente. A construção europeia foi o grande projeto da geração de 1945 para garantir a paz depois de duas guerras mundiais que pareciam mais com uma grande guerra civil europeia. Mas desde o fim da ameaça soviética, as autoridades de Bruxelas e dos Estados membros vêm só administrando o dia a dia, de crise em crise.

O processo perdeu qualquer ambição, rumo ou prumo. A ideia de construir um bloco unido e poderoso com uma capacidade de ação coletiva forte, para dentro e para fora, foi se desmelinguindo. O sonho acabou há muito tempo e se transformou numa imensa burocracia tecnocrática favorecida pelos governos dos Estados europeus que não estão a fim de compartilhar mais soberania... e que sempre podem usar Bruxelas como bode expiatório de suas próprias limitações. A fundação do euro logo depois da queda do Muro de Berlim foi a última grande iniciativa comum, e tinha muito mais a ver com a necessidade de controlar a reunificação alemã.

Europa já se transformou em desastre político

Essa Europa sem projeto, nacional ou continental, já se transformou num desastre político. Os cidadãos estão perdidos. Seus governos nacionais não tem mais capacidade de resolver os grandes problemas econômicos e sociais. E Bruxelas também está paralisada, sem força e sem ideias. Na Velha Europa, aqueles que perderam emprego, salário, garantias sociais e status, sem que seus dirigentes nacionais ou europeus fossem capazes de encontrar uma solução, querem recuperar a todo custo o controle político de suas vidas. Isso cria uma fragmentação geral entre perdedores e vencedores.

Na Inglaterra, os grupos favoráveis ao “Brexit” são os velhos, os menos educados e o que resta do antigo operariado. Enquanto os jovens com educação superior, com profissões nos serviços ou na crista da onda, e que moram nos grandes centros urbanos, só querem continuar desfrutando do grande mercado europeu e da liberdade de circulação.

Essa divisão está também fragmentando todos os partidos europeus, da esquerda e da direita. Cada um tem seus pró- e anti-europeus. É claro que se a Inglaterra se retirar na sua ilha, isso não vai resolver os problemas dos partidários do “Brexit”. Mas pode criar uma onda de choque que ameaça desintegrar tanto a Europa quanto cada pais europeu. Uma perspectiva nada alvissareira.

Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, publica crônica semanal às segundas-feiras na RFI

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.