Acessar o conteúdo principal
Ucrânia/ protestos

Ucrânia: Russos criticam EUA e aconselham repressão de protestos

O tom entre russos e americanos a respeito da crise política na Ucrânia, ex-membro da União Soviética, aumentou nesta sexta-feira (31), depois de o governo russo protestar contra a realização de uma reunião entre o secretário de Estado americano, John Kerry, e líderes da oposição ucraniana. Um conselheiro do presidente russo, Vladimir Putin, advertiu que se o presidente da Ucrânia não “sufocar a rebelião” em curso no país, vai perder o poder.

Mulheres participam de proteto em Kiev nesta sexta-feira.
Mulheres participam de proteto em Kiev nesta sexta-feira. REUTERS/Maks Levin
Publicidade

Conselheiro próximo de Putin, Sergueï Glaziev ainda afirmou, em uma entrevista divulgada hoje, que os Estados Unidos estão por trás dos protestos que agitam a Ucrânia nos últimos dois meses. As manifestações começaram depois que o presidente do país, Viktor Yanukovitch, se recusou a assinar um acordo de adesão à União Europeia, preferindo a proximidade com a Rússia.

“A Ucrânia se encontra em uma situação de golpe de Estado iminente, e como ele [Yanukovitch] é o guardião da Constituição, da segurança e da integridade da Ucrânia, ele não tem escolha”, disse o russo, em entrevista para a publicação Gazprom. “Ou ele defende o Estado ucraniano e sufoca a rebelião, provocada e financiada por forças externas, ou ele corre o risco de perder o poder. Isso seria um caos crescente e um conflito interno na Ucrânia”, acrescentou.

Mais cedo, o vice-primeiro-ministro russo, Dmitri Rogozin, havia afirmando que a reunião prevista para ocorrer no sábado, na Alemanha, entre o secretário de Estado americano, John Kerry, e dirigentes da oposição ucraniana, é um "circo". À margem da Conferência sobre a Segurança de Munique, Kerry se encontrará com o ex-campeão de boxe Vitali Klitschko, com o líder do partido da opositora detida Yulia Timoshenko, Arseni Yatseniuk, e com a estrela pop ucraniana Ruslana.

Kerry diz que medidas são “insuficientes”

Kerry, por sua vez, afirmou que as medidas apresentadas pelo presidente ucraniano até agora para tentar acalmar a tensão no país não bastam. “As propostas ainda não atingiram um nível suficiente de reformas”, disse, durante uma entrevista coletiva ao lado do ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, em Berlim.

Segundo Kerry, Yanukovitch deveria melhorar a lei de anistia aos manifestantes detidos e acabar com as medidas que limitam os direitos da oposição ucraniana. O secretário de Estado acrescentou que se forem feitos progressos na divisão do poder entre o governo e a oposição, os Estados Unidos incentivariam os manifestantes a diminuírem as pressões, em nome “da unidade e da paz”.

Enquanto isso, um comunicado divulgado no site do Ministério da Defesa, o exército ucraniano pediu ao presidente, Viktor Yanukovitch, que tome “medidas de urgência” para “estabilizar” o país. “Os militares e outros funcionários do Ministério da Defesa julgam inaceitáveis a invasão de prédios públicos e as tentativas de impedir o poder de cumprir suas funções, e nota que uma escalada da contestação ameaça a integridade territorial”, diz o texto.

A Ucrânia enfrenta há dois meses a mais grave crise política desde a independência da União Soviética, em 1991. Apesar da renúncia do primeiro-ministro Mykola Azarov, na terça, os manifestantes pró-europeus continuam a ocupar o centro da capital Kiev e pedem a demissão do presidente.
Leis promulgadas

Ainda nesta sexta, Yanukovitch promulgou uma lei sobre a anistia dos manifestantes detidos e revogou as emendas adotadas em janeiro para reprimir as manifestações. Os textos, defendidos pela presidência como sendo uma concessão à oposição, foram votados nesta semana pelo Parlamento e, em troca, exigem a retirada dos opositores dos locais públicos e edifícios ocupados. O governo estabeleceu o prazo de 15 dias para a saída dos manifestantes, mas a oposição rejeita essa condição.

Opositor diz ter sido torturado

Um ativo opositor ucraniano que estava desaparecido há mais de uma semana, Dmytro Bulatov, afirmou hoje ter sido sequestrado e torturado, em um caso que provocou a revolta de organizações humanitárias e da diplomacia europeia. O relato se soma a outras ocorrências de espancamentos e sequestros de opositores, inclusive um que resultou na morte de um militante.

“Eles me crucificaram, me cortaram uma orelha e talharam o meu rosto. Eles me encheram de golpes em todo o corpo. Mas, graças a Deus, estou vivo”, declarou Bulatov aos canais de televisão Kanal 5 e 1+1. Nas imagens, ele aparece com o rosto e as roupas cobertas de sangue e com ferimentos nas mãos.

O militante, de 35 anos e pai de três filhos, desapareceu no dia 22 de janeiro e afirma ter sido solto em uma floresta ontem, na periferia de Kiev. Ele diz ter caminhado até um vilarejo, onde foi socorrido.

Atualmente, 33 pessoas que participaram das manifestações estão desaparecidas, de acordo com a ONG SOS Euromaidan. A comissária de Relações Exteriores da União Europeia, Catherine Ashton, se disse “consternada” pelo relato.

 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.