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Esporte em foco

Marcelo e a torcida do Lyon: vai dar para superar o trauma?

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O jogador brasileiro Marcelo, do Olympique de Lyon, sofreu um ataque pesado da torcida de seu clube. Com faixas de “Fora Marcelo” e um desenho de um burro, os torcedores o insultaram dentro e fora de campo.

Zagueiro brasileiro Marcelo, jogador do Olympique Lyonnais, que foi alvo de ataques da torcida de seu clube.
Zagueiro brasileiro Marcelo, jogador do Olympique Lyonnais, que foi alvo de ataques da torcida de seu clube. Ronny Hartman/AFP
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Marcelo reagiu, mostrou o dedo do meio à torcida. Chegou a cogitar deixar o clube, mas acabou se desculpando com seu público dias depois, em uma mensagem pelo Twitter. “Futebol é minha paixão, minha vida”, escreveu.

A RFI conversou com o jornalista esportivo do jornal L’Équipe Hervé Penot, especializado na cobertura do Lyon. “O problema com Marcelo é que uma parte dos torcedores ficou em cima dele por questões de mau rendimento, mas ele não é o único no Lyon a ter passado por isso, ainda que ele tenha feito uma boa primeira temporada”, diz.

“Menphis Depay foi vaiado, Traoré e Cornet também, então os torcedores do Lyon são às vezes bem difíceis de entender. A maneira deles de lidar com os jogadores e treinadores - já que também já vaiaram Genésio e Rudi Garcia - não é fácil. E, depois de um tempo, Marcelo não aguentava mais ser o alvo destes torcedores”, acrescenta o jornalista.

“Ambos passaram dos limites”

O zagueiro Cris, ex-jogador do Lyon e ex-treinador do time jovem do mesmo clube, diz entender a cobrança da torcida, mas acha que ambos passaram dos limites.

“Eu sempre vou nos jogos e vejo tudo o que acontece, estou sempre por dentro. Foi um episódio triste. Eu acho que tem os dois lados da moeda. O jogador não tem culpa de estar passando por um momento difícil, uma má fase da carreira. A torcida cobra, a torcida está ali para isso, é a paixão. Agora o que não pode é ultrapassar os extremos. A cobrança existe, mas tem que ter o respeito de ambas as partes.”

Hervé Penot tenta entender a reação de Marcelo: “Não é legal mostrar o dedo, mas é preciso saber que os torcedores insultaram sua família, sua mulher, então, em um dado momento o jogador tem uma reação que não devia. É claro que um jogador deveria gerar seus nervos, estar atento ao seu comportamento, deve ser um exemplo, mas ele continua a ser humano", avalia. "No fim de um jogo que foi duro, complicado, em que a equipe se classificou para as oitavas de finais da Liga dos Campeões, a gente vê este comportamento dos torcedores, com a faixa escrito ‘Fora Marcelo’ e a cabeça de um burro…Ele não suportou a pressão.”

Torcida em fúria

Cris também já sentiu na pele a fúria da torcida. Ele terminou deixando os clubes, o Vasco e o Grêmio, após ser alvo de críticas pesadas. Após ter passado dez anos na Europa e jogado em times como Leverkusen, da Alemanha, Lyon; da França, e Galatasaray, da Turquia, Cris voltou ao Brasil e foi extremamente criticado. Ele contou à reportagem a sua má experiência.

“Eu já passei por isso no meu retorno para o Brasil, em 2013. Depois de dez anos na Europa, eu queria terminar a minha carreira no Brasil da melhor maneira possível. Eu estava tentando dar o meu máximo, mostrar a minha experiência, só que infelizmente as coisas não aconteceram como eu planejei”, disse o ex-jogador, hoje treinador.

Racismo?

No caso de Marcelo, houve especulações de que poderia se tratar de racismo, afinal o alvo dos torcedores era um brasileiro, negro. “Eu não diria que é racismo neste caso, mesmo que haja pessoas, neste grupo do Bad Gones e outros torcedores do Lyon, que são de um movimento que pode ser chamado de extrema direita e, em geral, eles não gostam de estrangeiros, principalmente quando estes não são brancos”, explica Hervé Penot.

Relação abalada

Mas a relação, de qualquer forma, entre Marcelo e seus torcedores, está abalada: “O que é preciso ser dito é que este grupo de torcedores é o grupo mais importante em Lyon, é emblemático, muito antigo, e a partir do momento em que um dos membros ficou contra Marcelo, a maioria ficou também”, acrescenta Penot.

A questão agora é saber como o brasileiro poderá continuar a jogar com a camisa do clube, já que a torcida não parece ter aceitado as suas desculpas.
Cris acredita que a relação entre o jogador e a torcida pode vir a melhorar, passado o recesso de fim de ano, mas Marcelo e o clube têm que mostrar resultados.

“Olha, eu conheço bem a torcida do Lyon, o campeonato, o time e eu acho que a situação é complicada.  Teve a desculpa, teve tudo, mas por ora a torcida não aceitou", comenta o jornalista. "Eu acho que o treinador confia no Marcelo, talvez o Marcelo possa voltar depois do Natal e o Ano Novo e começar um novo projeto, no próprio clube, e a torcida pode esquecer. Mas, para isso, o Marcelo vai ter de começar a jogar. Os resultados coletivos têm de voltar, e aí sim a torcida pode perdoá-lo”, analisa.

A RFI tentou entrevistar membros da torcida organizada Bad Gones sobre o caso. Eles não quiseram falar sobre o assunto. Já Marcelo não respondeu aos pedidos de entrevista.

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