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Radar econômico

Impacto da Copa na economia deve decepcionar, segundo analistas

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Quando o Brasil foi escolhido o país-sede da Copa de 2014, o governo tinha a expectativa de que, além de um legado importante para a população, o evento movimentaria bastante a economia do país. Mas segundo especialistas, a tendência é de que o Mundial gere um aumento de menos de 1% no PIB do Brasil, principalmente porque a iniciativa privada contribuiu menos do que o previsto para as obras e diversos investimentos prometidos no projeto de organização não saíram do papel.

REUTERS/Oswaldo Rivas
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Como o setor privado não correspondeu às expectativas, os gastos do governo com obras como a construção de estádios acabaram bem maiores do que o projetado. Na opinião de Marcelo Proni, diretor associado do Instituto de Economia da Unicamp, a Copa teria trazido mais efeitos na economia se tivesse estimulado mais investimentos que não ocorreriam se o evento não acontecesse no Brasil. Um exemplo são as melhorias na mobilidade urbana, que ficaram para segundo plano por conta dos gastos públicos elevados para a construção de estádios.

“Quando é o setor público que investe, muitas vezes é preciso deixar de gastar em uma área para gastar em outra. A capacidade de impacto na economia desses grandes eventos esportivos é maior quando o setor privado vê uma oportunidade de investimento e o faz”, afirma.

Dívidas

Proni, coautor do livro “Impactos Econômicos de Megaeventos Esportivos”, avalia que a conjuntura internacional desfavorável e o baixo crescimento do Brasil nos últimos anos desestimularam muitos investidores privados, e a Copa por si só não seria capaz de trazer o ânimo de volta. O efeito perverso, lembra, é que para suprir esse vácuo, alguns governos municipais e estaduais acabaram endividados para conseguir terminar as obras.

“O problema é que prefeituras e governos estaduais terão de ficar anos pagando por isso. Ou seja, em alguns casos, a Copa terá um efeito ambíguo: estimula alguns segmentos da economia local, mas por outro lado também vira um ônus e um peso sobre o poder público”, comenta.

Por enquanto, o total de investimentos para a Copa é estimado em R$ 26 bilhões. Segundo o pesquisador Edson Domingues, professor de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e também pesquisador sobre o tema, o impacto no Brasil não deve chegar a 1% do PIB. Ele observa que os governos que sediam megaeventos internacionais tendem a superestimar a movimentação da economia.

“É quase um esforço para vender o próprio produto, prevendo um impacto muito maior do que o efetivo”, sublinha. “Se você analisar, R$ 26 bilhões é muito pouco comparado com o tamanho da economia brasileira e não fazem quase nenhum efeito. Em termos de comparação, o investimento feito pela Petrobras no pré-sal é de R$ 500 bilhões.”

Decepção

No comércio, setores que estavam certos de lucrar com o Mundial, como a hotelaria, registram menos reservas do que imaginavam. Já a indústria têxtil, que esperava vender camisetas, bonés e outros adereços para os torcedores, se viu atropelada pelos produtos importados. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil, “o varejo não respondeu como esperado”. Em um ano, as vendas caíram 11,8% - embora agora, com o início das partidas de futebol, o setor esteja mais animado.

“Não podemos esquecer que é um setor que já sofre há muito tempo com a competição das importações e da pirataria. Talvez a Copa não mostre nenhum sintoma novo para eles”, explica Domingues.

Os pesquisadores destacam que apenas nos próximos meses é que o impacto econômico da Copa poderá ser avaliado com mais precisão.

 

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