Países europeus vão incluir prostituição e venda de drogas no PIB
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A partir de setembro, os países europeus vão precisar considerar as receitas de atividades ilegais no cálculo do PIB. A prostituição e a venda de drogas serão levadas em conta, apesar da dificuldade na obtenção de dados confiáveis sobre essas transações.
A questão é polêmica, mas segundo a Comissão Europeia, é preciso considerar serviços ilegais para equilibrar as estatísticas dos países que formam o bloco. Alguns países, como a Holanda, autorizam a prostituição e o uso de drogas. No caso holandês, essas duas atividades inflam o PIB, o Produto Interno Bruto, em 0,4%.
Como a contribuição financeira dos países para o bloco é proporcional ao valor total de riquezas, a Eurostat, a agência de estatísticas da União Europeia, recomendou, no ano passado, a inclusão do dinheiro que circula em drogas e prostituição no cálculo do PIB. O pedido havia sido feito pelos países onde essas transações são permitidas: eles se sentiam prejudicados em comparação às outras nações.
Na opinião do economista Eloi Laurent, professor da Sciences Po e da Universidade de Stanford, a questão abre um debate ético interessante para os países-membros.
“Uma estatística é uma forma de ver o mundo. Há coisa que vemos, outras que não, e outras que não queremos ver. Atrás disso tudo, está o fato de saber o que conta ou não, ou seja, todas as escolhas éticas que estão por trás das escolhas estatísticas”, afirma o autor de Le Bel Avenir de l'Etat Providence, no qual prega a adoção de novos indicadores estatísticos, com a inclusão do bem-estar e a sustentabilidade. ”A França contesta incluir a prostituição, mas quer adicionar os esforços em pesquisa e desenvolvimento, em inovação. Eu acho que há um grande debate aberto, sobre o que é o bem-estar, o que é um bom indicador de sucesso de uma sociedade, o que é preciso incluir, ou não. Isso me lembra março de 1968, quando Robert Kennedy fez um discurso no qual contestava o PIB e dizia que, no fundo, o PIB considera tudo menos aquilo que faz com a vida valha a pena.”
Melhora nas contas públicas
A Itália e o Reino Unido são exemplos de países que querem incluir essas receitas no PIB por outras razões. No caso italiano, os valores movimentados pela droga e a prostituição poderiam elevar o PIB em até 10%, o que aumentaria a contribuição do país para o orçamento europeu, mas por outro lado relativizaria o valor da dívida da Itália em relação ao Produto Interno Bruto. A manobra melhoraria a imagem do país diante de Bruxelas e poderia baixar as taxas de juros dos empréstimos para o governo italiano.
Já no Reino Unido, essas duas atividades movimentam 10 bilhões de libras por ano, ou quase 40 bilhões de reais. O valor corresponde a pouco menos de 1% do PIB britânico. O Instituto Nacional de Estatísticas da Grã-Bretanha afirma que a mudança seria importante para contribuir para a diminuição do déficit comercial britânico e até melhorar as estatísticas da agricultura e da fabricação de medicamentos, ao levar em conta a produção de maconha.
França não vai publicar dados
Os dados deverão ser informados à Comissão, mas não necessariamente divulgados pelos governos. Na França, Paris já inclui nas estatísticas públicas o trabalho não-declarado e o contrabando de cigarro. Mas só vai revelar para Bruxelas a estimativa de receitas da prostituição e o tráfico de drogas.
Ronan Mahieu, diretor do Departamento de Contas Nacionais do Insee, o Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos, afirma que o país questiona a inclusão, nos dados oficiais, de uma atividade onde nem sempre há consenso, como a prostituição.
“Nós não concordamos muito com a maneira como é preciso compreender e analisar os textos sobre o assunto e com até onde é preciso ir na inclusão das atividades ilegais. Além de certos princípios que fazem com que tenhamos dúvidas sobre o acordo mútuo para a realização de certos trabalhos, temos muito pouca informação”, esclarece. “Os dados são indiretos e nem sempre confiáveis. Por isso, achamos que a consideração dessas atividades no PIB não garante dados que permitam uma boa comparação entre os países.”
Além da Itália e do Reino Unido, também a Espanha e a Suécia informaram que vão publicar as novas estatísticas pedidas pela Comissão Europeia.
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