Acessar o conteúdo principal
Radar econômico

Países europeus vão incluir prostituição e venda de drogas no PIB

Publicado em:

A partir de setembro, os países europeus vão precisar considerar as receitas de atividades ilegais no cálculo do PIB. A prostituição e a venda de drogas serão levadas em conta, apesar da dificuldade na obtenção de dados confiáveis sobre essas transações.

França discorda de inclusão de receitas da prostituição no cálculo do PIB.
França discorda de inclusão de receitas da prostituição no cálculo do PIB. Reprodução Youtube / SexWorkersRights
Publicidade

A questão é polêmica, mas segundo a Comissão Europeia, é preciso considerar serviços ilegais para equilibrar as estatísticas dos países que formam o bloco. Alguns países, como a Holanda, autorizam a prostituição e o uso de drogas. No caso holandês, essas duas atividades inflam o PIB, o Produto Interno Bruto, em 0,4%.

Como a contribuição financeira dos países para o bloco é proporcional ao valor total de riquezas, a Eurostat, a agência de estatísticas da União Europeia, recomendou, no ano passado, a inclusão do dinheiro que circula em drogas e prostituição no cálculo do PIB. O pedido havia sido feito pelos países onde essas transações são permitidas: eles se sentiam prejudicados em comparação às outras nações.

Na opinião do economista Eloi Laurent, professor da Sciences Po e da Universidade de Stanford, a questão abre um debate ético interessante para os países-membros.

“Uma estatística é uma forma de ver o mundo. Há coisa que vemos, outras que não, e outras que não queremos ver. Atrás disso tudo, está o fato de saber o que conta ou não, ou seja, todas as escolhas éticas que estão por trás das escolhas estatísticas”, afirma o autor de Le Bel Avenir de l'Etat Providence, no qual prega a adoção de novos indicadores estatísticos, com a inclusão do bem-estar e a sustentabilidade. ”A França contesta incluir a prostituição, mas quer adicionar os esforços em pesquisa e desenvolvimento, em inovação. Eu acho que há um grande debate aberto, sobre o que é o bem-estar, o que é um bom indicador de sucesso de uma sociedade, o que é preciso incluir, ou não. Isso me lembra março de 1968, quando Robert Kennedy fez um discurso no qual contestava o PIB e dizia que, no fundo, o PIB considera tudo menos aquilo que faz com a vida valha a pena.”

Melhora nas contas públicas

A Itália e o Reino Unido são exemplos de países que querem incluir essas receitas no PIB por outras razões. No caso italiano, os valores movimentados pela droga e a prostituição poderiam elevar o PIB em até 10%, o que aumentaria a contribuição do país para o orçamento europeu, mas por outro lado relativizaria o valor da dívida da Itália em relação ao Produto Interno Bruto. A manobra melhoraria a imagem do país diante de Bruxelas e poderia baixar as taxas de juros dos empréstimos para o governo italiano.

Já no Reino Unido, essas duas atividades movimentam 10 bilhões de libras por ano, ou quase 40 bilhões de reais. O valor corresponde a pouco menos de 1% do PIB britânico. O Instituto Nacional de Estatísticas da Grã-Bretanha afirma que a mudança seria importante para contribuir para a diminuição do déficit comercial britânico e até melhorar as estatísticas da agricultura e da fabricação de medicamentos, ao levar em conta a produção de maconha.

França não vai publicar dados

Os dados deverão ser informados à Comissão, mas não necessariamente divulgados pelos governos. Na França, Paris já inclui nas estatísticas públicas o trabalho não-declarado e o contrabando de cigarro. Mas só vai revelar para Bruxelas a estimativa de receitas da prostituição e o tráfico de drogas.

Ronan Mahieu, diretor do Departamento de Contas Nacionais do Insee, o Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos, afirma que o país questiona a inclusão, nos dados oficiais, de uma atividade onde nem sempre há consenso, como a prostituição.

“Nós não concordamos muito com a maneira como é preciso compreender e analisar os textos sobre o assunto e com até onde é preciso ir na inclusão das atividades ilegais. Além de certos princípios que fazem com que tenhamos dúvidas sobre o acordo mútuo para a realização de certos trabalhos, temos muito pouca informação”, esclarece. “Os dados são indiretos e nem sempre confiáveis. Por isso, achamos que a consideração dessas atividades no PIB não garante dados que permitam uma boa comparação entre os países.”

Além da Itália e do Reino Unido, também a Espanha e a Suécia informaram que vão publicar as novas estatísticas pedidas pela Comissão Europeia.

 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.