Human Rights Watch: partida de Jean Wyllys é “triste para a esquerda e a direita”
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No dia seguinte ao anúncio do deputado federal Jean Wyllys, do Psol, de não assumir o seu terceiro mandato e deixar o Brasil por temer ameaças de morte, o pesquisador César Munhoz, da organização internacional Human Rights Watch no Brasil, analisa que a decisão reflete uma perda crescente da liberdade de expressão no país. “É uma questão que vai além de ideologias: tanto faz se é de esquerda ou de direita”, constata.
“É muito triste que qualquer parlamentar tenha de abandonar o Congresso, para o qual foi eleito pelos cidadãos, por sentir que a vida dele está correndo riscos. É uma perda muito grande para a liberdade de expressão dos brasileiros, porque eles têm o direito de escutar opiniões diversas”, afirma Munhoz, em entrevista à RFI Brasil.
O pesquisador disse compreender a decisão de Wyllys, que em uma carta ao seu partido, divulgada na imprensa brasileira, reclamou da falta de proteção do Estado e da Polícia Federal, apesar das graves ameaças das quais era alvo. “As ameaças deveriam ser investigadas adequadamente. Pessoas precisam ser protegidas, senão teremos mais casos como o de Jean Wyllys, que têm que sair do país, ou que ficam caladas e não expressam mais suas opiniões, ou então morrem”, adverte Munhoz. “Essa é a realidade do Brasil: defensores dos direitos humanos são assassinados. Por isso a decisão de Jean Wyllys é compreensível.”
A organização preocupa-se com o acirramento da perseguição a jornalistas e a integrantes e defensores da comunidade LGBT nos últimos meses, em especial pelas redes sociais. Jornalistas que realizaram reportagens contrárias a Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral procuraram proteção devido à avalanche de ataques virtuais.
Presidente Bolsonaro baixou o tom
O pesquisador nota que, desde que assumiu o Palácio do Planato, o ex-militar não proferiu mais “ataques homofóbicos e ofensivos” como os que costumava fazer no Congresso, onde protagonizava duros embates com Wyllys. “Espero que continue assim”, comentou.
Mas Munhoz demonstra preocupação com a medida provisória editada no seu primeiro de governo para supervisionar e monitorar organizações não governamentais. “As ongs precisam de imparcialidade e independência, mas aqui se inverteu a lógica: é o Estado que vai monitorar as organizações", pontua.
Anistia Internacional se posicionou sobre o caso
A Anistia Internacional divulgou nesta sexta-feira (25) uma nota pública em reação ao caso. “Jean Wyllys, defensor de direitos humanos e em especial das pessoas LGBT, foi deputado federal por dois mandatos (2011 -2018) e era o único parlamentar assumidamente gay no Congresso Brasileiro. (...) Em consequência disso, foi alvo de massivos ataques públicos, intensa campanha de difamação, e ameaças à sua vida”, afirmou a entidade.
“Por tudo que Jean Wyllys defende e representa, as ameaças e intimidações contra ele são uma ameaça a um grupo mais amplo de defensores de direitos humanos, movimentos sociais e outros parlamentares. Estas ameaças são uma tentativa de gerar medo, silêncio e interromper um processo de transformação social e garantia de vida digna para as pessoas. Não é aceitável que parlamentares ou autoridades públicas sejam ameaçadas, atacadas ou assassinadas por defenderem suas ideias”, conclui o comunicado.
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