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Pedro Dallari: “Qualquer rejeição à criação de um estado palestino é ruim”

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A comunidade internacional se reuniu no final de semana em Paris para discutir a paz no Oriente Médio e enviar uma mensagem ao novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump: a solução do conflito israelo-palestino passa pela criação de dois estados.

Pedro Bohomoletz de Abreu Dallari, Diretor do Instituto de Relações Internacionais da USP e membro da Comissão de Direitos Humanos da Universidade.
Pedro Bohomoletz de Abreu Dallari, Diretor do Instituto de Relações Internacionais da USP e membro da Comissão de Direitos Humanos da Universidade. Tomaz Silva/ABr/ Creative Commons
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A Conferência Internacional, que reuniu mais de 70 líderes de vários países e de Organizações Não-Governamentais que trabalham sobre o conflito, não teve a ambição de encaminhar uma proposta formal, mas serviu para demonstrar a forte mobilização da comunidade internacional pela retomada do diálogo e em defesa da criação de um estado palestino para fazer avançar o processo de paz.

“Muitas vezes os especialistas são céticos, consideram que essas Conferências podem não ser muito produtivas. Eu penso o contrário. É justamente nos piores momentos, de crise aguda, em que aparentemente não se vislumbram soluções a curto prazo é que se deve insistir no diálogo, nas alternativas e na busca dos canais para que se possam dar surgimento de boas alternativas”, afirma Pedro Dallari, diretor Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Universidade de São Paulo.

Segundo ele, não há outro caminho possível para devolver a paz ao Oriente Médio senão a criação oficial de um estado que já é reconhecido por várias instituições internacionais.
“É a única via. É visível como a comunidade internacional vai, progressivamente, dando abrigo à existência do estado palestino. A própria Palestina já vai se tornando membro de organizações internacionais como a Unesco, que tem sede em Paris”, lembra.

“A existência do estado palestino já vai se consubstanciando como uma realidade internacionalmente aceita. Portanto, o caminho a ser perseguido é o do reconhecimento pleno por todos os envolvidos nos eventos daquela região dos dois estados”, defende.

Dallari vê com maus olhos a disposição do presidente eleito Trump de querer reconhecer Jerusalém como capital de Israel, uma medida considerada polêmica e que colocaria mais obstáculos nas iniciativas de retomada do diálogo do país com as lideranças palestinas.

“Uma medida que aponte na direção da rejeição da tese dos dois estados, por mais aceitação que ela tenha no plano internacional, é ruim. É importante verificar como na prática vai se comportar o governo Trump, quando estiver diante de um ambiente muito conflituoso e que exigirá mediação dos Estados Unidos”, observa.

“Os Estados Unidos sempre insistiram no fato de que podem exercer um papel de mediação porque têm interesse relacionados aos outros países da região, como a Arábia Saudita e nesse sentido, têm que contemporizar sua posição em defesa do esado de Israel com a busca de uma solução que dê estabilidade para uma região que é muito importante para os interesses norte-americanos”, explica.

Pedro Dallari também mostra reticências sobre a decisão de Trump de indicar seu genro, Jared Kushner, como futuro negociador para o Oriente Médio. Sem experiência diplomática, Kushner foi um um dos responsáveis pelas posições de política externa manifestadas pelo candidato Trump durante a campanha eleitoral.

“Fica contraditória a posição de hostilidade à essa tese de acomodação, se por outro lado, o Trump, quando assumir, designar seu genro para atuar na região. A menos que ele não goste do genro e queira vê-lo em maus lençóis. Aparentemente, ele está escalando o genro, respaldando-o com a possibilidade de conseguir um acordo para a região”, observou.

Trump pode ajudar a resolver conflito sírio

Se a postura do futuro presidente dos Estados Unidos ainda é uma incógnita sobre suas ações para o conflito israelo-palestino, a chegada do republicano à Casa Branca abre uma perspectiva positiva para solucionar o conflito na Síria, segundo Dallari. As relações de Trump com o presidente russo Vladimir Putin podem desbloquear os obstáculos para levar à paz ao um país que vive uma situação humanitária dramática por causa da guerra.

“É importante, tendo em vista o envolvimento da Rússia no conflito, que o diálogo entre os Estados Unidos e a Rússia evolua, em um primeiro momento para minimização dos impactos no conflito sobre a população civil, e, num segundo momento, para se buscar um equacionamento político para o país. “Tendo em vista a propalada boa relação entre Trump e Putin, há uma perspectiva de solução para o conflito com o novo governo”, concluiu.
 

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