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Reportagem

Mesmo sem Marina, movimentos LGBT não veem avanços no Brasil

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Qual será a reação e a expectativa da comunidade LGBT ( Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transsexuais) brasileira em relação aos candidatos do segundo turno das presidenciais - a presidente Dilma Rousseff, do PT, e Aécio Neves, do PSDB,, e suas futuras alianças? O que representou a eliminação de Marina Silva, do PSB, para os militantes por mais direitos? Nesta reportagem, diversos depoimentos respondem a estas perguntas e analisam a importância da luta da categoria para os políticos do nosso país.  

Militantes LGBT esperam a criminalização da homofobia prometida pela presidente Dilma Rousseff.
Militantes LGBT esperam a criminalização da homofobia prometida pela presidente Dilma Rousseff. Soliloquio Blogspot.fr
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Alívio. Assim podemos definir o sentimento dos militantes pelos direitos dos homossexuais diante da derrota da candidata evangélica do PSDB, Marina Silva.

Mistura de valores religiosos e políticas públicas

Cristiana Serra vê com ceticismo as promessas da presidente Dilma Rousseff.
Cristiana Serra vê com ceticismo as promessas da presidente Dilma Rousseff. (Foto: Arquivo pessoal)

A questão dos direitos da comunidade  LGBT veio à tona nestas eleições e, como lembra a psicóloga e militante carioca Cristiana Serra, teve uma certa visibilidade.

Cristiana Serra considera Marina Silva a grande perdedora nestas presidenciais e explica porquê: "Eu acho que, inadvertidamente, a Marina acabou trazendo às luzes da discussão, com mais evidência, a questão dos direitos LGBT, por conta daquela mudança que ela realizou no plano de governo que tinha traçado para os LGBTs, a partir de quatro tuitadas do Silas Malafaia, que fizeram com que ela recuasse. Acho que Marina Silva foi a grande derrotada destas eleições, e mais do que ela pessoalmente, o que ela representa, ou seja, um jeito de fazer política que vem se consolidando no Brasil através de concessões por um certo setor da política que é um setor que capitaliza poder político em cima de um moralismo, em cima de uma mistura de valores religiosos com política, de pautar políticas públicas, especialmente no campo dos direitos LGBT, mas também na questão do aborto, dos direitos da mulher. Tem havido muito essa mistura de valores religiosos com definições de políticas públicas e esse jeito de fazer política, fazendo concessões a setores retrógrados, enfim, eu tenho a impressão de que Marina, apesar de falar em 'nova política', acabou sendo percebida como um ícone desse jeito de fazer política misturando com forças reacionárias, que as pessoas rejeitaram", diz a psicóloga.

Presidenciáveis sem foco nos direitos LGBT

Para Rufino Ribeiro, os direitos LGBT não fazem parte das prioridades dos líderes políticos.
Para Rufino Ribeiro, os direitos LGBT não fazem parte das prioridades dos líderes políticos. (Foto: Arquivo pessoal)

O cabeleireiro e empresário Rufino Ribeiro ficou aliviado com a derrota da candidata socialista pois acha que Marina Silva não somente não faria nada como poderia prejudicar as reivindicações dos grupos LGBT.

"A Marina é meio homofóbica, querendo ou não as pessoas estavam contra votar nela por causa do fanatismo da religião dela. Se fosse eleita, Marina poderia não só prejudicar como não daria interesse à comunidade LGBT. Não tem interesse nenhum para tentar ajudar", diz o empresário, reconhecendo a dificuldade dos direitos avançarem.

Rufino Ribeiro também analisa que em São Paulo as pessoas estão divididas e que nem Aécio nem Dilma priorizam os direitos da categoria. "Nenhum dos dois candidatos está com foco nisso", constanta, observando que tem discutido bastante com seus amigos sobre o assunto.

"A consciência política é fundamental para a sociedade caminhar", conclui o entrevistado.

Perigo vem das bancadas

Militante LGBT, Julian Ribeiro lamenta o "tsunami conservador" nas legislativas deste ano.
Militante LGBT, Julian Ribeiro lamenta o "tsunami conservador" nas legislativas deste ano. (Foto: Arquivo pessoal)

Julian Rodrigues, ativista de Direitos Humanos e membro do Conselho Consultivo da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais,Travestis e Transsexuais), se preocupa com as bancadas legislativas eleitas no primeiro turno, bastante conservadoras, que podem prejudicar futuras reivindicações.

"Houve um voto muito conservador para o Legislativo, um 'tsunami conservador', o que impacta nos direitos LGBT tanto ou mais até do que a votação e os programas dos candidatos à presidência. Tanto Dilma quanto Aécio têm organizações LGBT nos seus partidos. O Aécio lançou um programa por escrito com propostas LGBT genéricas, mais genéricas no final do primeiro turno do que o programa dele registrado no Tribunal Regional Eleitoral. A Dilma não lançou programa por escrito mas encontrou lideranças e declarou que é a favor tanto da criminalização da homofobia quanto reconhece a questão dos direitos civis como resolvida", diz Julian.

Qual é então o problema, aos olhos do militante?

"O problema é que no segundo turno, tanto Dilma quanto Aécio tendem a procurar os setores mais conservadores, será um segundo turno muito disputado. Minha dúvida é até que ponto vão ter peso esses setores conservadores", observa Julian, lembrando que candidatos declaradamente antigays, super radicais, assim como uma plêiade de pastores, apresentadores de programas policiais de TV,   evangélicos e ex-militares, engrossaram as bancadas da Câmara dos Deputados e, em menor grau, do Senado. "É cedo ainda para fazer uma análise mais refinada, mas tudo indica que a Câmara dos Deputados hoje é mais conservadora e o Senado, também. Isso dificulta todas as pautas como direitos LGBT, direitos das mulheres... É um quadro preocupante para os Direitos Humanos, muitos deputados e deputadas defensores desses direitos foram derrotados em vários Estados do Brasil", finaliza, preocupado, Julian Ribeiro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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