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Linha Direta

Governo interino de Guaidó pouco alterou cenário venezuelano

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Esta terça-feira (23) marca os primeiros seis meses desde o juramento de Juan Guaidó como presidente interino autoproclamado da Venezuela. O líder opositor manteve a convocação de um ato público nesta manhã em uma praça de Caracas, apesar do apagão que afetou pelo menos 21 estados do país na tarde de ontem.

“Governo” do autoproclamado Juan Guaidó completa 6 meses nesta terça-feira (23)
“Governo” do autoproclamado Juan Guaidó completa 6 meses nesta terça-feira (23) REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
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Elianah Jorge, correspondente da RFI Brasil na Venezuela

Embora este engenheiro de 35 anos seja o político mais popular da Venezuela, país que sofre com severas crises, Juan Guaidó vem perdendo poder de convocação, em comparação com o início de seu governo interino.

O líder opositor, que conta com o apoio de mais de 50 países, entre eles os Estados Unidos e mais recentemente o da Grécia, até então busca consolidar as três metas que usa como bordão: o fim da usurpação (como descreve o mandato de Nicolás Maduro), governo de transição e eleições livres.

Sobre o apagão, o ministro da Comunicação da Venezuela, Jorge Rodríguez, informou que a gigantesca falha elétrica foi causada por um ataque eletromagnético. Já Guaidó afirmou que Nicolás Maduro não pode esconder a destruição do sistema elétrico nacional. O apagão desta segunda-feira (22) é o terceiro em nível nacional apenas este ano. O primeiro aconteceu em março, gerando fortes prejuízos ao país.

Ações do governo interino

A ação mais ousada de Guaidó foi em 30 de abril deste ano, quando ele antecipou o levante que teria apoio de militares para chegar ao Palácio Presidencial de Miraflores, para derrubar Nicolás Maduro. Naquela madrugada ele apareceu com Leopoldo López, o preso político e colega do partido Voluntad Popular, na base aérea de La Carlota, uma das mais importantes de Caracas. O plano fracassou. López buscou refúgio na casa do embaixador da Espanha em Caracas. De lá fez um pronunciamento antes de Guaidó, demonstrando a falta de coesão na oposição.

As demonstrações de desunião foram apontadas como um dos fatores de enfraquecimento da oposição, segundo Elliott Abrams, representante especial dos EUA para a Venezuela.

Além disso, o chavismo moveu peças e minou parte do apoio local a Guaidó com a prisão do vice-presidente da Assembleia Nacional, Edgar Zambrano, e a retirada da imunidade parlamentar de deputados, que fugiram do país ou buscaram refúgio em embaixadas.

Recentemente dois seguranças de Guaidó foram presos e acusados de tentar vender as armas que supostamente seriam usadas no levante.

Já o assessor pessoal do interino, Roberto Marrero, continua na prisão.

Faltam ações concretas de Guaidó

Além do apoio e da pressão internacionais, Guaidó pouco avançou, e isso tem pesado. Os atos convocados por ele já não atraem tantas pessoas como antes.

Ele se baseia na confiança popular de que dias melhores virão. Mas já evita usar a pergunta “como vamos? ”, a qual os seguidores respondiam “vamos bem”.

Agora Guaidó afirma que o ponto central de sua luta é a fome da população. De acordo com as Nações Unidas, nos últimos anos quadriplicou o número de venezuelanos sem acesso a alimentos.

Mas faltam ações concretas. Até mesmo a suposta intervenção militar, temida por uns e desejada por outros, parece ter sido arquivada. Outro plano frustrado foi a entrada da ajuda humanitária pelas fronteiras do Brasil e da Colômbia. O que aconteceu nas fronteiras foi caótico. Recentemente foi anunciado que os insumos estocados na Colômbia seriam doados a venezuelanos na cidade colombiana de Cúcuta.

Foi a Cruz Vermelha Internacional, após intensas negociações com o governo de Nicolás Maduro, que conseguiu trazer ao país, por outras vias, a ajuda humanitária.

Reação do governo de Nicolás Maduro

Nas últimas horas o ministro da Comunicação da Venezuela, Jorge Rodríguez, acusou os Estados Unidos de violarem o espaço venezuelano com o voo de um avião de guerra.

Já a agência de notícias Reuters informou que Washington irá redirecionar cerca de US$40 milhões ao governo de Juan Guaidó. O dinheiro que antes seria destinado a países da América Central, será destinado à oposição venezuelana para pagar salários de parlamentares, viagens aéreas, propaganda, assistência técnica, treinamento para eleições e outros projetos para construção da democracia no país.

Mas, apesar do anúncio, ainda faltam ações concretas que demonstrem maior apoio e avanços na situação política venezuelana.

Panorama caótico

A situação do país ainda é caótica. Muitas pessoas estão abandonadas pelo Estado. Este, por sua vez, começa a sentir as consequências das sanções.

Enquanto isso, o governo interino de Juan Guaidó corre contra o relógio, apesar das recentes mediações feitas pelo governo da Noruega.

Em cinco de janeiro do ano que vem, de acordo com a Constituição, a presidência da Assembleia Nacional será assumida por outro partido. O chavismo vem aproveitando as mediações da Noruega para trabalhar o calendário político nacional.

Sem contar que há poucos dias, reiterando as ameaças, Maduro sugeriu que novas eleições estão a caminho.   

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