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O Mundo Agora

Trump e Putin se aproveitam da manipulação das informações na internet

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Donald Trump continua negando com tuítes raivosos. Mas as agências de inteligência americanas estão convencidas que autoridades russas tentaram influenciar a campanha presidencial americana hackeando os computadores do Partido Democrata. Pior ainda: descobriram que também piratearam o correio eletrônico do Partido Republicano, mas não publicaram nada para favorecer a eleição do bilionário.

Outdoor com Donald Trump e Vladimir Putín com a seguinte legenda "Deixem nos fazer um mundo maior, outra vez, juntos", em Danilovgrad, Montenegro, novembro 2016.
Outdoor com Donald Trump e Vladimir Putín com a seguinte legenda "Deixem nos fazer um mundo maior, outra vez, juntos", em Danilovgrad, Montenegro, novembro 2016. REUTERS/Stevo Vasiljevic Open in New Window Download Picture Add
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Não é a primeira vez que Moscou (comunista ou não) usa técnicas de ingerência deslavada nos processos políticos de países democráticos. Mas desta vez, passou da conta. Com medo de que o presidente eleito, admirador Putin, engavete a acusação, Obama pediu para a CIA e a NSA um relatório completo sobre o caso. A ser entregue antes da posse de Trump.

Neste mundo ultraconectado é cada vez mais difícil saber quem hackeia quem: governos, grupos ou até indivíduos com algum conhecimento tecnológico, têm condições de piratear a rede global. Um espaço sem lei, onde navegam pessoas e instituições perfeitamente honestas, junto com espiões, flibusteiros não governamentais, organizações criminosas, e indivíduos com péssimas intenções. Mas são os fatos as maiores vítimas dessa guerrilha eletrônica.

Qualquer governo ou empresa de porte possui os seus serviços de comunicação e relações públicas para tentar influenciar o fluxo de informações. Cada um tentando impor a “sua” própria “verdade”, distorcendo os fatos se for preciso. Claro, não é de hoje. A diferença agora é que bilhões de pessoas têm acesso direto às redes de informações em tempo real. Qualquer um pode colocar online o que quiser, verdade ou mentira deslavada, sem nenhum filtro, controle ou autoridade e tudo isso tem um impacto imediato na percepção da realidade por milhões de pessoas. Governos, a mídia tradicional e até os simples indivíduos ficam correndo atrás de um vendaval de “notícias” que aparecem e desaparecem em tempo recorde. Sem ninguém saber se refletem a realidade ou se foram “plantadas” para fins escusos.

Nas sociedades ultraconectadas, falta uma autoridade legítima para regular a profusão de informações

Muitos já estão teorizando um mundo da “pós-verdade”: ninguém acredita em mais nada. Todas as informações se valem e se anulam. Um mundo sem bússola, no qual as emoções do momento passam por cima da análise dos fatos e da tomada de decisão racional e informada. Uma situação que só pode favorecer líderes autoritários e cínicos. Não há fatos irrefutáveis se ninguém mais acredita que isso possa existir. Se cada vez que alguém afirma alguma coisa, mesmo cientificamente provada, aparece outro imediatamente com um ponto de vista radicalmente diferente.

O problema central é que no mundo da comunicação permanente não existe autoridade reconhecida como legítima pela maioria dos cidadãos capaz de separar o joio do trigo. E sem essa autoridade, não pode haver aquele mínimo de consenso que permite a vida em comum.

Nos países ultraconectados, as sociedades estão se fragmentando. Pessoas e grupos desesperados por encontrar algum tipo de certeza se refugiam em seitas, grupos fechados ou “silos” de conversas eletrônicas nos quais todos os membros pensam a mesma coisa, ou estão à procura de um guru que afiance a “verdade”. Poucos são os que ainda querem tomar responsabilidades por seus atos a partir de fatos. Preferem só confiar na palavra e no “jeito” de um demagogo autoritário e manipulador. Foi o que aconteceu na eleição de Trump, no Brexit britânico, nas eleições polonesas ou húngaras. E também o que explica a popularidade de Putin na Rússia.

O problema é que essa manipulação constante das informações está minando os regimes democráticos. Com a cumplicidade da mídia tradicional, que de tanto querer mostrar que é imparcial, corre atrás das redes e publica tudo que aparece sem tomar posição nem filtrar a verdade da mentira descarada. Claro, não há solução à vista. Ninguém sabe quem poderia ter uma autoridade legítima capaz de construir e dar um rumo para uma maioria de cidadãos. Enquanto não acontecer, as autocracias vão prosperar pela propaganda e a manipulação, e as democracias estarão ameaçadas de serem estraçalhadas pela confusão e a desconfiança de todos contra todos.

Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, faz uma crônica de política internacional às segundas-feiras para a RFI
 

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