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Linha Direta

Em Dallas, Obama quer lançar campanha de união nacional

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Depois de um fim de semana em que centenas de manifestantes foram presos e barricadas de proteção foram erguidas em diversas delegacias de polícia nos EUA, incluindo Nova York, há uma enorme expectativa para o retorno de Barack Obama ao país, que deixou a Europa mais cedo do que o esperado. O presidente visita Dallas, onde cinco policiais foram mortos, nesta terça-feira (12).

Em frente da sede da polícia, foram depositadas coroas, flores e cartazes em homenagem às vítimas do ataque de Dallas. 10/07/16
Em frente da sede da polícia, foram depositadas coroas, flores e cartazes em homenagem às vítimas do ataque de Dallas. 10/07/16 REUTERS/Carlo Allegri
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Eduardo Graça, correspondente da RFI em Nova York

O primeiro presidente negro dos EUA interrompeu a viagem oficial à Espanha e irá a Dallas com o objetivo de iniciar uma campanha de união nacional e oferecer conforto a uma sociedade cada vez mais dividida e chocada com a explosão da violência de origem racial no país. O atentado na quinta-feira na cidade do Texas, que tirou a vida de cinco policiais e feriu outros sete, além de dois civis, se deu no momento em que as atenções estão todas voltadas para a sucessão presidencial.

O país ainda está perplexo depois do ataque perpetrado por Micah Johnson, um cidadão negro de 25 anos, que teve treinamento militar, serviu no Afeganistão e, de acordo com os policiais, revelou não aguentar mais ver o número de jovens negros mortos pela polícia nos EUA. Ele decidiu, munido de um antigo rifle de fabricação soviética, matar “o máximo de brancos possíveis, especialmente policiais”.

Antes de ser alvejado fatalmente, ele matou cinco policiais durante uma manifestação pacífica do grupo Black Lives Matter pelas ruas de Dallas. Os protestos se multiplicaram nas grandes cidades americanas depois das mortes de dois jovens negros em ações da polícia, nos estados de Minnesotta e Louisiana.

Black Lives Metter estaria "vilanizando" policiais, dizem representants da direita

Embora tenha agido por conta própria, Johnson acabou fazendo com que diversas vozes da direita, incluindo o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani e o vice-governador do Texas, Dan Patrick, ambos republicanos, acusassem o Black Lives Matter de estar ‘vilanizando’ os policiais e ser, indiretamente, responsável pela radicalização de cidadãos negros e mortes de oficiais exemplares.

Um dos principais líderes do movimento, DeRay Markinson, um especialista em administração de escolas que foi pré-candidato este ano pela esquerda do Partido Democrata, à prefeitura de Baltimore, foi preso pela polícia no sábado. Ele deixou sua cela ontem exigindo que o presidente Obama visite também esta semana, além de Dallas, onde vai prestar homenagem aos policiais mortos, Baton Rouge e Mineápolis, as cidades onde os dois cidadãos negros morreram em ações policiais este mês.

Decisões de Obama podem influenciar eleições de novembro

Obama estaria sendo pressionado tanto pela direita quanto pela esquerda e em um momento em que seus movimentos podem influenciar diretamente as eleições de novembro. Este é sim um dos momentos mais delicados dos quase oito anos de Obama na Casa Branca. De um lado, ele precisa tomar o maior cuidado para que sua candidata, Hillary Clinton, não diminua seu poder de atração na comunidade negra. Ela precisa de um comparecimento maciço de eleitores negros para vencer em novembro.

Por outro lado, Donald Trump procura usar o episódio para fortalecer, com sua retórica de retorno da América para os americanos e tiradas anti-imigração, sua liderança entre os cidadãos brancos, especialmente os com menor nível de escolaridade. Desde quinta-feira ele tem batido na tecla de que a tragédia de Dallas é um reflexo do desgoverno, da falta de pulso que ele diz imperar no país. Ele deve usar palanques país afora esta semana para responsabilizar unicamente Obama, sem citar os excessos da polícia contra cidadãos negros, comprovados por estatísticas da própria instituição, pelo que aconteceu em Dallas.

Black Lives Matter surgiu em 2014

O Black Lives Matter surgiu em 2014, depois da morte de Michael Brown, de 18 anos, no subúrbio de Saint Louis, no coração da América Profunda, por um policial. Na época, o Gallup mostrava que 14% dos negros nos EUA acreditavam que as relações raciais jamais iriam melhorar no país. Este ano, e antes de Dallas, este número já havia aumentado para 35%. O número de mortes de cidadãos por policiais nos EUA este ano é de 491, sensivelmente maior do que os 465 do ano passado. Não se vê progresso na área, ao contrário.

A expectativa é a de que os ativistas irão reduzir o número de protestos depois da série de prisões deste fim de semana. Ontem de noite, logo após ser solto, DeRay Markinson avisou que a repressão policial só irá fazer com que os manifestantes do Black Lives Matter aumentem o número de protestos país afora. Uma das preocupações de Obama e da polícia é a de que eles tentem fazer algo de peso no fim do mês, nas convenções democrata, na Pensilvânia, e republicana, em Cleveland, duas cidades com número significativo de moradores negros.

Sanders deve anunciar apoio a Clinton

Esta semana, Donald Trump deve anunciar o nome de seu vice-presidente e, na terça-feira, o senador Bernie Sanders deve finalmente confirmar, em um comício no estado de Novo Hampshire, seu apoio a Hillary Clinton. Pois os dois aguardados eventos do calendário eleitoral terão inevitavelmente como pauta inesperada aquele que vai se cristalizando como o maior fracasso da Era Obama: o combate ao racismo e à percepção, para os negros, de que eles, por fim, não seriam mais cidadãos de segunda classe na maior democracia do ocidente.

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