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Linha Direta

Escassez aumenta casos de desnutrição na Venezuela

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O longo período de escassez na Venezuela vem trazendo consequências comprometedoras para parte da população. É o que aponta estudos de Organizações Não Governamentais (ONGs) que funcionam no país. Um deles destacou que 20% dos venezuelanos sofrem distúrbios alimentares e também de excesso de peso, mas o caso mais preocupante é o da fome oculta.

Merenda na escola é último recurso para algumas famílias.
Merenda na escola é último recurso para algumas famílias. LEO RAMIREZ / AFP
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Elianah Jorge, correspondente da RFI Brasil na Venezuela

Não apenas a escassez deteriora a qualidade de vida da população. Para a ONG Provea (Programa Venezuelano de Educação Ação), diversos fatores impedem que as camadas menos favorecidas consigam alimentos. O desabastecimento, a escassez e a regulação dos produtos da cesta básica, além dos métodos de controle e a restrição da quantidade de produtos para compra modificaram os hábitos de consumo e de alimentação da população, sem contar com a inflação que, segundo a ONG, está no pior nível histórico nacional desde 1950.

As restrições alimentares já começam no café da manhã. Antes o venezuelano conseguia comer o alimento típico, a arepa recheada com manteiga e queijo, e tomar um café com leite. Agora a farinha para fazer a arepa quase não é encontrada, o queijo está caríssimo, já não há café, leite ou mesmo açúcar. No almoço, falta arroz e feijão, e as carnes estão caríssimas. Macarrão também sumiu após ter o preço regulado pelo governo.

Quem tem dinheiro, busca alternativas, mas quem ganha um salário mínimo ou menos, já não pode comer três vezes ao dia. Há famílias que mandam os filhos para o colégio somente para que eles comam a merenda. A reportagem da RFI conversou com um vigilante que quase desmaiou porque estava há 36 horas sem se alimentar corretamente. Ele preferiu deixar a comida para os filhos. Enquanto isso, governo e oposição brigam entre si enquanto nas ruas de todo o país, e as filas de gente em busca de comida são cada vez maiores e mais tensas.

Fome oculta

O programa de Nutrição Comunitária da Fundação Bengoa para a Alimentação e Nutrição divulgou uma pesquisa realizada em escolas de três grandes cidades do país, incluindo a capital, que aponta o crescimento de 9% de crianças com deficiências por falta de nutrientes. De acordo com o organismo, os casos devem ser ainda maiores em outras escolas nas quais não há programas de alimentação.

Outro ponto a destacar é o aumento da chamada fome oculta, quando a dieta tem mais calorias e menos nutrientes, e que vem ganhando espaço nas casas venezuelanas. Nas ruas vemos pessoas até obesas, mas, quando consultadas sobre a qualidade do que ingerem, destacam que apenas estão consumindo carboidratos e gorduras e baixíssimas quantidades de proteínas, vitaminas e minerais. No futuro essa condição tende a desencadear doenças crônicas geradas pela carência de nutrientes. De acordo com a pesquisa da Fundação, 20% dos venezuelanos sofrem distúrbios alimentares e também de excesso de peso

Inflação mais alta do mundo

De acordo com o levantamento anual de Provea, a pobreza aumentou 5,13% em 2015 por causa dos altos índices de inflação. De acordo com analistas, a inflação da Venezuela este ano deve chegar a 800%, a mais alta do mundo. Segundo Rafael Uzcátegui, coordenador geral de Provea, hoje há mais pobres do que havia em 1990. Um retrocesso preocupante. Atualmente são necessários mais de 12 salários mínimos para comprar a cesta básica e os recentes aumentos decretados pelo presidente Nicolas Maduro empurram os preços para cima.

Esta semana o governo anunciou os novos preços da carne, do frango e do leite, todos com um aumento de mais de 100%, incompatíveis com o acréscimo do salário mínimo. Antes era raro ver um venezuelano revirando latas de lixo. Agora, essa cena se tornou comum. Sem contar com o número de pessoas pedindo esmolas e comida. A situação tende a se agravar, já que o governo reduziu em 60% os trâmites de importação de alimentos

Estado de Exceção amedronta população

Nesta quarta-feira (25), havia mais gente fazendo fila na porta dos supermercados e farmácias que no ato da oposição, pelo menos na capital Caracas. O ato convocado pelo governador Henrique Capriles Radonsky para pedir que o Tribunal Supremo de Justiça não limite o direito a manifestações diante das sedes do Poder Eleitoral não surtiu o efeito esperado e poucas pessoas apareceram. Um dos motivos foi o Estado de Exceção imposto pelo governo e que amedronta a população.

Os opositores buscam a realização de um referendo revogatório para forçar uma saída constitucional de Nicolas Maduro do poder. Embora a oposição tenha coletado um grande número de assinaturas durante a primeira etapa do processo do referendo, nas marchas não há o mesmo apelo popular. A popularidade de Maduro está caindo, mas a população está descrente do jogo político e vem dedicando seu tempo em encontrar o que levar para casa.
 

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