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Brasil-Mundo

Cineastas e produtores brasileiros aguardam a retomada em Hollywood pós-pandemia

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As luzes e câmeras, há mais de dois meses estão desligadas em Hollywood. Todas as produções pararam, lançamentos foram cancelados. Realizadores brasileiros que moram em Hollywood conversaram com a RFI sobre o impacto da pandemia nos projetos e expectativas para a retomada.

Cartaz de "Be(lie)f", da brasileira Sabrina Percario.
Cartaz de "Be(lie)f", da brasileira Sabrina Percario. © DR
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Cleide Klock, de Los Angeles

A ação nos bastidores não para, mas ainda é impossível saber exatamente como será a retomada das grandes produções: quando dois atores irão se beijar em um set novamente ou milhares de figurantes se reunirão para filmar partes essenciais de tantas tramas agora engavetadas.

Enquanto o público se diverte com produções disponíveis nas plataformas de streaming, todos os braços da indústria do cinema se reúnem - online - para discutir talvez o roteiro mais importante de toda a histórias da sétima arte: o recomeçar em tempos pós-pandemia.  

O governador da Califórnia, Gavin Newsom, declarou nesta semana: "Estamos elaborando diretrizes em tempo real para setores específicos, incluindo a indústria do entretenimento". Ele deve ainda, na segunda-feira (25), divulgar regras para a quarta fase da reabertura, que inclui produção de filmes e TV, mas provavelmente não em Los Angeles. A expectativa é de que no meio de junho sets pelos Estados Unidos acendam a luz da tão esperada 'ação'.

Realizadores brasileiros que moram em Hollywood conversaram com a RFI sobre o impacto da pandemia nos projetos e expectativas para a retomada.

O cineasta Marcelo Galvão acredita que, enquanto não houver vacina, os roteiros devem ser adaptados à nova realidade.
O cineasta Marcelo Galvão acredita que, enquanto não houver vacina, os roteiros devem ser adaptados à nova realidade. © DR

O cineasta Marcelo Galvão, diretor dos premiados Colegas (2012) e A Despedida (2014) acredita que, enquanto não houver vacina, os roteiros devem ser adaptados à nova realidade.

"A maneira como eu faço cinema, acho que é uma forma que as pessoas vão ter que fazer parecido para se adaptarem. Com equipe bem enxuta, uma locação, pouco transporte. Eu tenho visto que em lugares que já retomaram as filmagens, toda a equipe fica em um hotel e todo mundo fica ali [em isolamento]. Acho que isso vai acontecer nesses próximos meses e que no começo do ano, quando já houver uma vacina, imagino que volte tudo ao normal".

Sem os holofotes e o glamour de Cannes

A quarentena coincidiu com a fase de finalização do filme Fourth Grade - estreia em língua inglesa do cineasta - e do documentário, Três Vidas e Um Sonho (sobre as mães dos protagonistas de Colegas), dois projetos dirigidos por Galvão. Mas se por um lado ele não precisava estar no set, seria o período de ir para a rua tentar alavancar esses filmes. Para isso o diretor já estava com passagem marcada para o Festival de Cannes.

"O festival não vai mais acontecer de forma presencial e vai funcionar apenas online, será uma experiência única, a primeira vez que nós vamos fazer dessa forma. Então também estou muito curioso para saber como é que vai ser o Marché du Film, que é onde você leva filme e o apresenta para vários distribuidores, produtores e agentes de venda."

A produtora e atriz brasileira Sabrina Percario também cancelou as passagens para Cannes, depois de comemorar que havia sido selecionada para uma mostra paralela com o curta-metragem Be(lie)f. Sabe-se lá quando esses eventos que amontoam jornalistas e deixam atores a dois palmos de distância dos repórteres serão retomados. Sabrina agora - em casa e sem brilhos - deve participar do mercado de Cannes e vê o novo formato com visão otimista, já que esse networking pode atingir pessoas de todo o mundo e agentes que não estariam no festival francês fisicamente. A produtora também teve de reformular toda a agenda, pois em junho começaria a rodar o próximo filme que produz e atua, My Violet Energy.

"Acredito que está sendo uma oportunidade incrível para a gente poder se aprofundar nos roteiros, porque antes existia uma ansiedade de ir para o set, vamos gravar logo, aquela correria, o prazo super curto. E o roteiro é a raiz do projeto. Eu acho que por conta desse momento de introspecção e reflexão, lá no futuro quando a gente puder voltar para o set, estaremos muito mais calmos, centrados e preparados."

O enigma dos orçamentos

Sabrina jogou a data das filmagens para setembro ou outubro, sem nenhuma certeza, mas também pensando nas mudanças que farão parte do novo normal.

"Acho que as questões de higiene vão mudar, que os sets vão ser muito mais profissionais, a pessoa vai lá para fazer a tarefa e volta para casa, muito pontual e não vai se estender. Espero que os preços melhorem, eu não posso cobrar um valor antigo com um cenário diferente então tenho que rever também quanto que é o custo do meu serviço."

Pensar em queda de preço é uma visão otimista, levando em conta a crise e que, por causa do desemprego, muitos profissionais possam reavaliar seus preços. Mas executivos de grandes estúdios estimam que em uma produção hollywoodiana o "custo Covid-19" pode encarecer em média em US$ 1 milhão o orçamento de uma superprodução.

Estão entre as mudanças: turnos escalonados para equipes - com o intuito de diminuir o número de pessoas no set -, o que pode esticar os cronogramas de filmagens. Acredita-se também que será preciso contratar especialistas da área de saúde, comprar equipamentos adicionais para limpeza, proteção, rever sistemas de transporte como as vans e até os detalhes sobre a alimentação, já que os buffets devem ser abolidos pelo menos por enquanto.

Para Fábio Cesnik, advogado especialista em mídia e entretenimento, que tem escritório em Los Angeles, o corte de pessoal no set pode ser a saída para adaptar orçamentos e no contraponto interferir já nos altos índices de desemprego. Cesnik lembra também que "em Hollywood nada acontece sem seguro e as corretoras tiveram um grande prejuízo com os cancelamentos e hoje nenhuma quer aceitar fazer cobertura de pandemia".  

Diante desse cenário, o advogado não tem uma visão tão otimista sobre uma retomada imediata das filmagens. 

"Acredito que Hollywood consiga começar no momento em que tiver mais segurança e puder testar todo mundo, talvez no final do próximo semestre, é bem incerto dizer.  Agora a vida normal mesmo só em 2022, após a vacina, aí que a vida realmente volta ao normal. Ao longo do final deste ano e do ano que vem inteiro acho que a gente vai viver nessa dificuldade".

Mudanças e incógnitas

Os testes para papéis em filmes, as famosas audições, que até já aconteciam em parte com gravações enviadas para os diretores, tomaram uma direção que pode ser irreversível depois da pandemia.

"Hoje nessas plataformas online de elenco você recebe no seu perfil a chamada para audição e grava em casa com seu celular. Você só precisa de uma parede branca e o importante é a qualidade do ator. Claro que perde a oportunidade dos ajustes com o diretor no momento, mas é assim que está acontecendo durante a pandemia", conta Sabrina Percario.

Já a volta da experiência de assistir a um filme em uma sala de cinema, é mais uma das perguntas por enquanto sem resposta exata. Qual o fôlego das grandes redes para esperar as pessoas se sentirem confortáveis em dividir espaços fechados para fins de entretenimento? 

Marcelo Galvão em uma visão bem pessoal vê que um novo modelo pode estar por vir, ligando as grandes plataformas de streaming com as salas vazias.

"Acho que as salas não vão acabar, mas vai demorar para gente assistir a um filme no cinema, e não sei se essas redes conseguem sobreviver. A saída seria essas plataformas de streaming que estão tendo milhões de assinantes comprarem essas redes para passarem seus acervos, lançamentos, fazerem experiências interativas. É um grande 'achismo' muito pessoal meu, mas pode ser uma saída". 

 

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