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Linha Direta

Europa e Estados Unidos reagem com "timidez" após Turquia aprovar envio de tropas para a Líbia

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A votação no Parlamento foi realizada numa sessão de emergência em Ancara e desestabiliza os países da região.

O presidente turco Tayyip Erdogan durante um simpósio em Ancara, em 2 de janeiro de 2020
O presidente turco Tayyip Erdogan durante um simpósio em Ancara, em 2 de janeiro de 2020 Murat Cetinmuhurdar/Presidential Press Office/Handout via REUTER
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Fernanda Castelhani, correspondente da RFI em Istambul

Caberá agora ao governo turco decidir sobre o número de militares, o tempo de permanência em solo líbio e área exata de atuação das tropas. Mais do que envio de soldados por terra, o que se prevê para a operação da Turquia na Líbia é o suporte para treinamento e a ocupação do espaço aéreo. Nada disso tem ainda hora para começar. Mas tem prazo para acabar: a validade é de um ano após a aprovação da medida.

A contar pelo momento em que o Parlamento turco votou a moção, o governo de Ancara tem pressa. A expectativa era de que o texto fosse avaliado apenas na semana que vem, quando o legislativo voltaria do recesso de inverno. Mas, nesta quinta-feira (02), os legisladores turcos foram convocados e o projeto recebeu 325 votos a favor por parte do AKP, o partido do presidente Tayyip Erdogan, juntamente com seus aliados nacionalistas, contra 184 votos dos partidos de oposição. Ou seja, placar com ampla vantagem para os governistas.

Refugiados: causa da discrição de EUA e UE

A Turquia vai atuar na capital Trípoli ao lado do governo líbio reconhecido pelas Nações Unidas, o chamado Governo de Acordo Nacional. Enquanto isso, outros países apoiam o general Khalid Haftar, que domina hoje o leste da Líbia. A decisão turca foi rapidamente criticada pelo Egito que, ao lado de Emirados Árabes e Rússia, é um dos principais apoiadores do militar, que controla o leste líbio.

O governo do Cairo declarou que condena fortemente a entrada militar da Turquia e que o deslocamento de tropas turcas afetará negativamente a estabilidade da região mediterrânea, pedindo à comunidade internacional uma resposta urgente. O presidente americano também se manifestou contrário à ação militar em Trípoli. Por enquanto, de forma reservada. Donald Trump discutiu a situação por telefone com Tayyip Erdogan e destacou a importância da diplomacia para resolver questões regionais.

O tema também será central no encontro de Erdogan com o presidente russo Vladimir Putin na próxima semana em Istambul. Apesar de estarem em lados opostos também na Síria, os dois têm se falado constantemente e mantido o tom cordial, posicionando-se como protagonistas na mediação de conflitos no Oriente Médio. Assim como os Estados Unidos, o bloco europeu prefere a discrição. A União Europeia depende da Turquia para conter a entrada de refugiados e se calou diante da nova empreitada externa turca.

Estratégia de expansão e nacionalismo

Para um país que já não vai bem economicamente, como a Turquia, o avanço para além do Mediterrâneo representa uma oportunidade e um risco. De acordo com analistas políticos, depois da intervenção militar na Síria, a futura entrada na Líbia é um novo exemplo da crescente autoconfiança turca como uma potência regional.

Tayyip Erdogan tem como objetivo retomar a posição turca de líder no mundo islâmico com essa política expansionista a fim de reviver os tempos áureos do antigo Império Otomano. Ele lembrou recentemente que a Líbia foi o último território da época dos sultões a ser perdido. Foi em 1912, quando passou para o controle da Itália.

As operações com Exército também tiram a Turquia da posição de isolamento e a coloca na mesa de negociação lado a lado com outros países. Além do acordo militar, o governo de Ancara assinou em novembro com Fayez al-Sarraj, o primeiro-ministro do governo reconhecido pela ONU na Líbia, parceria que dá direito à demarcação de fronteiras marítimas para a Turquia explorar zonas do Mediterrâneo ricas em gás e petróleo.

São áreas desejadas por outros países como Grécia, Egito, Chipre e Israel. Arriscado é prever como a Turquia vai sustentar várias frontes de confronto tanto no campo diplomático quanto financeiro. E há quem diga até que tudo isso é para estimular o nacionalismo e Erdogan angariar seguidores internamente para uma possível convocação antecipada de eleições gerais neste ano. 

 

 

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