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Argentina/Greve

Cristina Kirchner enfrenta uma inédita rebelião de policiais e de suboficiais

Apesar do governo já ter recuado, policiais e militares mantém firme uma greve em protesto contra a política salarial para a categoria. Esta é a primeira vez, na história da Argentina, em que militares protestam contra o governo e contra a degradação econômica da classe.

Oficiais da Gendarmaria Argentina cantam hino diante de quartel, em protesto contra o governo da presidente Cristina Kirchner
Oficiais da Gendarmaria Argentina cantam hino diante de quartel, em protesto contra o governo da presidente Cristina Kirchner REUTERS/Enrique Marcarian
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De farda, com megafones e bloqueio de avenidas, pelo quarto dia consecutivo, milhares de agentes da Guarda Costeira e da Gendarmaria argentina protestam contra as condições salariais e avisam que a greve deve durar até, pelo menos, terça-feira que vem, prazo dado ao governo argentino para atender às reivindicações. Na Argentina, a Guarda Costeira atua como força policial nas áreas próximas a portos, rios e praias. A Gendarmaria é uma espécie de Polícia do Exército dedicada à fronteira e às estradas, mas que também patrulha zonas perigosas da periferia de Buenos Aires.

Uma reforma administrativa do governo alterou a equação dos rendimentos e provocou uma redução entre 30 e 60% nos soldos dessas Forças de Segurança. Como nunca antes em 200 anos de história da Guarda Costeira e de 70 anos da Gendarmaria, policiais e militares iniciaram uma rebelião. Assustado, o governo recuou: anulou a medida e removeu a cúpula das Forças de Segurança.

Mas a reforma fez vir à tona a realidade: a maior parte dos assalariados não está nem mesmo registrada com carteira assinada. Agora os policiais e militares querem um piso salarial de 7000 pesos equivalentes a 3.500 reais, o dobro do piso atual. Eles reivindicam também que todos sejam registrados com carteira assinada e que os grevistas não sejam punidos.

Suboficiais da Marinha e da Aeronáutica começaram a aderir à greve. Por outro lado, agentes da Polícia Federal e suboficiais do Exército ameaçam participar do movimento nas próximas horas. Metade das 24 províncias argentinas está com efetivos em greve.

Onda de protestos e Democracia

 A rebelião acontece em meio a uma drástica queda na popularidade da presidente Cristina Kirchner cuja imagem negativa supera agora a avaliação positiva por parte da população. Ao mesmo tempo, a classe média tem se manifestado nas ruas contra a inflação galopante, contra a proibição de comprar dólares (refúgio de poupança dos argentinos) e contra uma eventual manobra do oficialismo para modificar a constituição e possibilitar um terceiro mandato à Cristina Kirchner.

O Congresso emitiu um comunicado no qual pede às Forças de Segurança que respeitem as instituições democráticas e que "se adaptem às pautas de funcionamento democrático e de subordinação às autoridades legalmente constituídas". Os "aquartelados" garantem ser a favor da democracia e que o protesto não passa de uma questão meramente salarial.

Para o renomado analista político Rosendo Fraga, diretor do Centro Nova Maioria e especialista em questões militares, o conflito representa "um desafio para o governo" e "tem um desenlace difícil de ser previsto". "O governo não estava preparado para este cenário. Foi um erro grave de gestão. Trata-se de uma crise significativa com consequências difíceis de serem previstas", concluiu.

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