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Mercosul/ comércio

Especialistas são céticos sobre acordo entre Mercosul e China

Pouco antes do início da cúpula de dirigentes dos países do Mercosul, a China acenou a intenção de firmar um acordo de livre comércio entre o bloco sul-americano e o gigante asiático. Porém as chances de ser firmado um acerto abrangente entre os dois são bastante reduzidas, conforme especialistas.

A presidente brasileira, Dilma Rousseff, encontrou-se com o premiê chinês, Wen Jiabao, durante a Rio+20.
A presidente brasileira, Dilma Rousseff, encontrou-se com o premiê chinês, Wen Jiabao, durante a Rio+20. REUTERS/Roberto Stuckert Filho/Brazilian Presidency/Handout
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O primeiro obstáculo é que o Paraguai, um dos quatro membros do Mercado Comum do Sul, não mantém relações diplomáticas com Pequim - não à toa, a proposta do primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, foi feita estrategicamente em um momento em que os paraguaios estão suspensos do bloco, devido à crise política que culminou no impeachment do presidente Fernando Lugo. Este afastamento é apenas temporário.

Em segundo lugar, as relações comerciais entre sul-americanos e o país asiático já são intensas e vêm crescendo: no ano passado, a China importou 51 bilhões de dólares de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, ao mesmo tempo em que exportou 48 bilhões de dólares. Enquanto os países do Mercosul comercializam principalmente commodities, Pequim vende produtos industrializados.

O terceiro empecilho decorre das barreiras comerciais existentes entre os próprios países - e que os industriários sul-americanos não fazem a menor questão de derrubar para abrir espaço aos produtos chineses, os mais competitivos do mundo.

Ainda assim, a proposta de Wen Jiabao vai ser analisada nesta sexta-feira pelos presidentes do bloco sul-americano, em sua cúpula semestral, que ocorre desde hoje na cidade argentina de Mendoza. As líderes brasileira, Dilma Rousseff, e argentina, Cristina Kirchner, se mostraram favoráveis à intensificação do comércio, mas ainda não se manifestaram sobre as possibilidades de um acordo de livre comércio.

"Há muitas condicionantes porque a região vende para a China majoritariamente commodities que já entram nesse mercado quase sem restrições, pela necessidade que a China tem de alimentos e outros produtos primários", declarou Mauricio Claverí, analista de comércio exterior da consultora Abeceb.com argentina. Segundo ele, para que um tratado com a China seja eficaz, "devem ser identificados nichos de venda em setores com maior valor agregado": os produtos industriais "representam apenas 4% ou 5% das exportações totais" do Mercosul ao gigante asiático.

Também o economista Gilmar Masiero, especialista com comércio com a China, acha que as chances de um acordo ser assinado são mínimas, pelo menos a curto prazo. Ele destaca que um tratado comercial é negociado há 13 anos com os europeus, sem resultados – mesmo se a América Latina possui, com os europeus, uma proximidade histórica inexistente em comparação à Ásia.

“Com a China, eu vejo uma dificuldade ainda maior. A China já compra da América Latina o que lhe interessa. Se um acordo for viabilizado, não vai existir uma ampliação significativa do comércio para o nosso lado”, afirmou Masiero. “Se nós retirarmos as nossas proteções, acabou: os chineses invadem o mercado e tomam conta”, disse o especialista da USP.

Além do comércio com os asiáticos, o Brasil estuda a viabilidade de um acerto com o Canadá, com quem Brasília espera ampliar o comércio agrícola. Embora Montreal seja o sexto maior importador mundial neste setor, os brasileiros respondem por apenas 2,9% das compras. A ideia é que, se as conversas evoluírem, o assunto seja levado ao Mercosul.
 

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